sábado, 6 de setembro de 2014

APRENDENDO A FAZER FICHAMENTO E RESUMO DE TEXTOS - TEMAS DE FILOSOFIA – VARGAS DIGITADOR – POSTADO NO BLOG




TEMAS DE FILOSOFIA – VARGAS DIGITADOR – POSTADO NO BLOG

Aprendendo a fazer fichamento e resumo de textos

Quando estamos estudando, seja para a escola, seja em virtude de interesse pessoal por determinado assunto, o complemento natural da leitura racional e analítica, que vimos no item anterior, é a ficha de leitura. Essa ficha pode conter a estrutura do texto e o encadeamento lógico das ideias nele contidas de forma resumida, ou pode conter citações importantes sobre um determinado tópico.
O fichamento pode ser, portanto, de dois tipos: fichamento de um texto e fichamento de tópicos determinados, que serão aproveitados, mais tarde, para um trabalho de síntese. Trataremos um tipo de cada vez.

Fichamento de textos

Fichamento de texto ensaístico

O ensaio é um texto literário não-ficcional, razoavelmente curto, que trata de um único assunto, a partir do ponto de vista escolhido pelo autor.  
Vamos estudar, agora, o fichamento passo a passo.
1º passo:
Para facilitar o trabalho de fichamento de um texto ensaístico, devemos fazer, em primeiro lugar, uma leitura corrente exploratória, sem nos determos nas dificuldades. Muitas delas se resolverão na segunda leitura, quando já tivermos uma ideia do texto todo, do conjunto de argumentos que foram desenvolvidos. Devemos aproveitar essa primeira leitura para numerar os parágrafos, o que nos auxiliará muito no passo seguinte.
2º passo:
Consiste na identificação das partes principais do texto. Todo texto ensaístico completo (isso não se aplica, é claro, a trechos retirados de um todo maior) apresenta de forma mais ou menos clara três partes distintas:
a)    Introdução – nela o autor coloca o problema ou a indagação que o levou a escrever o texto. A introdução nos dá, então, uma ideia do assunto tratado. Além disso, nela o autor coloca também o ponto de vista ou o ângulo sob o qual ele vai abordar o assunto e, às vezes, o método, ou seja, o caminho que vai seguir (se vai apresentar casos para chegar a uma generalização, ou se vai partir de um princípio geral e deduzir suas consequências)
b)    Desenvolvimento – é o corpo do texto, que apresenta os dados, as ideias, os argumentos e as afirmações com que o autor constrói um edifício de relações entre as partes, e que constitui o seu pensamento original. A partir da indagação/problema colocada na introdução, o desenvolvimento revela como o autor conduziu a procura de soluções/explicações e quais os caminhos que escolheu um detrimento de outros.
c)     Conclusão – toda a construção desemboca em algumas afirmações ou em novas indagações decorrentes da organização e do desenvolvimento do texto.
          3º passo:
          Na terceira etapa, vamos levantar a estrutura, isto é, o plano lógico a partir do qual o texto foi escrito. Para isso, resumimos em poucas palavras as ideias principais de cada parágrafo para poder, a seguir, agrupá-las sob tópicos gerais. Perguntamos: a que diz respeito a ideia principal do parágrafo? Há uma palavra ou um título que condense o assunto que está sendo tratado?
          Voltando à introdução deste texto, levantamos a sua estrutura da seguinte
forma:

Resumo
Tópico
- 1. A ficha de leitura como complemento da leitura analítica pode conter a estrutura lógica do texto ou citações importantes.
- 2. Existem dois tipos de fichamento: de texto e de tópicos.
Fichamento como complemento de leitura.

Tipos de fichamento

          Colocando-se isso em forma de plano, temos:
0.     Introdução
0.1.         Fichamento como complemento da leitura
0.2.         Tipos de fichamento
      4º passo
Agora, estamos prontos para a quarta etapa, ou seja, para examinar a relação que as ideias mantêm entre si e elaborar o plano do texto: quais as ideias, fatos ou argumentos apresentados que estão no mesmo nível, isto é, que não dependem uns dos outros, mas que se somam no desenvolvimento do texto? Quais as ideias que dependem ou são subdivisões de outras? Tomando como exemplo o índice de um livro, vemos que os capítulos estão no mesmo nível de importância (mesmo tamanho e mesmo tipo de letra), sendo, portanto, ideias coordenadas. As subdivisões de cada capítulo, uma vez que dependem do assunto principal, são ideias subordinadas. Podemos perceber a estrutura de cada capítulo pelo tamanho da letra usada para compor os títulos de cada tópico (tipo maior) e subtópico (tipo menor).
Finalizando nosso trabalho, organizamos esses tópicos sob a forma de plano, numerando cuidadosamente cada ideia principal e indicando quais as ideias subordinadas que a ela estão ligadas.

Fichamento de texto literário
      A construção do texto literário não obedece ao mesmo tipo de organização que
o texto ensaístico. Apesar de o escritor também mostrar uma parte da realidade e defender ideias, isso se dá de forma encoberta, menos direta, mais figurada. A história contada vai revelar, através da sua trama, as ideias e os valores que o autor defende e que nos cabe buscar no texto. Para tanto, devemos proceder da forma explicada a seguir:

     Como primeiro passo, fazemos a leitura emocional, como foi explicada no item anterior, entregando-nos ao prazer de ler e nos envolvendo com o assunto.

       O segundo passo é fazer o levantamento do nível denotativo, isto é, o significado imediato, literal do texto. Para isso, fazemos e fichamos um resumo do enredo ou trama do texto. E o que é fazer um resumo? É contar, em poucas palavras, a história apresentada no texto, mantendo apenas os detalhes importantes para que se compreenda a situação e a atuação dos personagens.

    Em terceiro lugar, procedemos ao levantamento do nível conotativo, ou figurado, do texto: que tema o autor está discutindo? Que ideias valores a história simboliza?

    Vamos ver dois exemplos. A peça A vida de Galileu, de Bertolt Brecht, conta a história de Galileu (séc. XVII), suas descobertas, sua defesa do heliocentrismo, suas brigas com os cardeais e com o papa (que defendiam o genocentrismo), seu julgamento e o fato de ele ter negado a teoria que defendera, para não ser condenado à morte. Esse é o resumo do enredo da peça, isto é, o nível denotativo do texto.

    O tema dessa peça, por sua vez, é a luta entre a fé, que representa o conservadorismo da elite no poder, e a razão (ciência), que representa a possibilidade de qualquer indivíduo chegar ao conhecimento, havendo, assim, a democratização do saber e o questionamento das ações daqueles que detêm o poder.

    Na história da Branca de Neve e os sete anões, cujo enredo conhecemos desde pequenos, o tema é o despertar da sexualidade. Os primeiros sinais são os ciúmes que a madrasta tem da menina que se torna mulher. Depois, durante o tempo de vida com os anõezinhos, que não representam homens normais, com desejos, mas são apenas protetores, Branca de Neve adormece por obra da madrasta e só é despertada ao ser beijada pelo Príncipe Encantado. O caráter sexual desse despertar é indicado pelo meio utilizado: o beijo. Assim, o enredo, ou trama, da história serve para revelar significados mais profundos, de caráter figurativo (conotativo).

    Do fichamento devem constar, ainda, as passagens que nos permitem chegar a determinadas conotações, com a indicação da página e parágrafo.
   



                                                                                                                                                                                                                                                                                              

(Revivendo Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins em Temas de FILOSOFIA) – Editora Moderna – São Paulo, 1992.