TEMAS
DE FILOSOFIA – VARGAS DIGITADOR – POSTADO NO BLOG
Aprendendo a fazer fichamento e resumo
de textos
Quando
estamos estudando, seja para a escola, seja em virtude de interesse pessoal por
determinado assunto, o complemento natural da leitura racional e analítica, que
vimos no item anterior, é a ficha de
leitura. Essa ficha pode conter a estrutura do texto e o encadeamento
lógico das ideias nele contidas de forma resumida, ou pode conter citações
importantes sobre um determinado tópico.
O
fichamento pode ser, portanto, de dois tipos: fichamento de um texto e fichamento de tópicos determinados, que
serão aproveitados, mais tarde, para um trabalho de síntese. Trataremos um tipo
de cada vez.
Fichamento de texto
ensaístico
O ensaio é um texto
literário não-ficcional, razoavelmente curto,
que trata de um único assunto, a partir do ponto de vista escolhido pelo
autor.
Vamos estudar, agora, o fichamento passo a passo.
1º passo:
Para facilitar o trabalho de fichamento de um
texto ensaístico, devemos fazer, em primeiro lugar, uma leitura corrente exploratória, sem nos determos nas dificuldades.
Muitas delas se resolverão na segunda leitura, quando já tivermos uma ideia do
texto todo, do conjunto de argumentos que foram desenvolvidos. Devemos
aproveitar essa primeira leitura para numerar os parágrafos, o que nos
auxiliará muito no passo seguinte.
2º passo:
Consiste na identificação das partes principais do texto. Todo texto ensaístico
completo (isso não se aplica, é claro, a trechos retirados de um todo maior)
apresenta de forma mais ou menos clara três partes distintas:
a)
Introdução – nela o autor coloca o
problema ou a indagação que o levou a escrever o texto. A introdução nos dá,
então, uma ideia do assunto tratado. Além disso, nela o autor coloca também o
ponto de vista ou o ângulo sob o qual ele vai abordar o assunto e, às vezes, o
método, ou seja, o caminho que vai seguir (se vai apresentar casos para chegar a
uma generalização, ou se vai partir de um princípio geral e deduzir suas
consequências)
b)
Desenvolvimento – é o corpo do texto,
que apresenta os dados, as ideias, os argumentos e as afirmações com que o
autor constrói um edifício de relações entre as partes, e que constitui o seu
pensamento original. A partir da indagação/problema colocada na introdução, o
desenvolvimento revela como o autor conduziu a procura de soluções/explicações
e quais os caminhos que escolheu um detrimento de outros.
c)
Conclusão – toda a construção
desemboca em algumas afirmações ou em novas indagações decorrentes da
organização e do desenvolvimento do texto.
3º passo:
Na terceira etapa, vamos levantar a estrutura, isto é, o plano lógico a
partir do qual o texto foi escrito. Para isso, resumimos em poucas palavras as
ideias principais de cada parágrafo para poder, a seguir, agrupá-las sob
tópicos gerais. Perguntamos: a que diz respeito a ideia principal do parágrafo?
Há uma palavra ou um título que condense o assunto que está sendo tratado?
Voltando à
introdução deste texto, levantamos a sua estrutura da seguinte
forma:
Resumo
|
Tópico
|
-
1. A ficha de leitura como complemento da leitura analítica pode conter a
estrutura lógica do texto ou citações importantes.
-
2. Existem dois tipos de fichamento: de texto e de tópicos.
|
Fichamento
como complemento de leitura.
Tipos
de fichamento
|
Colocando-se isso em forma de plano,
temos:
0.
Introdução
0.1.
Fichamento
como complemento da leitura
0.2.
Tipos
de fichamento
4º passo
Agora, estamos prontos para a quarta etapa,
ou seja, para examinar a relação que as ideias mantêm entre si e elaborar o
plano do texto: quais as ideias, fatos ou argumentos apresentados que estão no
mesmo nível, isto é, que não dependem uns dos outros, mas que se somam no
desenvolvimento do texto? Quais as ideias que dependem ou são subdivisões de
outras? Tomando como exemplo o índice de um livro, vemos que os capítulos estão
no mesmo nível de importância (mesmo tamanho e mesmo tipo de letra), sendo,
portanto, ideias coordenadas. As subdivisões de cada capítulo, uma vez que
dependem do assunto principal, são ideias subordinadas. Podemos perceber a
estrutura de cada capítulo pelo tamanho da letra usada para compor os títulos
de cada tópico (tipo maior) e subtópico (tipo menor).
Finalizando nosso trabalho, organizamos esses
tópicos sob a forma de plano, numerando cuidadosamente cada ideia principal e
indicando quais as ideias subordinadas que a ela estão ligadas.
Fichamento de texto literário
A
construção do texto literário não obedece ao mesmo tipo de organização que
o texto ensaístico. Apesar de o
escritor também mostrar uma parte da realidade e defender ideias, isso se dá de
forma encoberta, menos direta, mais figurada. A história contada vai revelar,
através da sua trama, as ideias e os valores que o autor defende e que nos cabe
buscar no texto. Para tanto, devemos proceder da forma explicada a seguir:
Como primeiro passo, fazemos a leitura
emocional, como foi explicada no item anterior, entregando-nos ao prazer de ler
e nos envolvendo com o assunto.
O
segundo passo é fazer o levantamento do nível denotativo, isto é, o significado
imediato, literal do texto. Para isso, fazemos e fichamos um resumo do enredo
ou trama do texto. E o que é fazer um resumo? É contar, em poucas palavras, a
história apresentada no texto, mantendo apenas os detalhes importantes para que
se compreenda a situação e a atuação dos personagens.
Em terceiro lugar, procedemos ao
levantamento do nível conotativo, ou figurado, do texto: que tema o autor está
discutindo? Que ideias valores a história simboliza?
Vamos ver dois exemplos. A peça A vida de Galileu, de Bertolt Brecht,
conta a história de Galileu (séc. XVII), suas descobertas, sua defesa do
heliocentrismo, suas brigas com os cardeais e com o papa (que defendiam o
genocentrismo), seu julgamento e o fato de ele ter negado a teoria que
defendera, para não ser condenado à morte. Esse é o resumo do enredo da peça,
isto é, o nível denotativo do texto.
O tema dessa peça, por sua vez, é a luta
entre a fé, que representa o conservadorismo da elite no poder, e a razão (ciência),
que representa a possibilidade de qualquer indivíduo chegar ao conhecimento,
havendo, assim, a democratização do saber e o questionamento das ações daqueles
que detêm o poder.
Na história da Branca de Neve e os sete anões, cujo enredo conhecemos desde
pequenos, o tema é o despertar da sexualidade. Os primeiros sinais são os
ciúmes que a madrasta tem da menina que se torna mulher. Depois, durante o
tempo de vida com os anõezinhos, que não representam homens normais, com
desejos, mas são apenas protetores, Branca de Neve adormece por obra da
madrasta e só é despertada ao ser beijada pelo Príncipe Encantado. O caráter sexual
desse despertar é indicado pelo meio utilizado: o beijo. Assim, o enredo, ou
trama, da história serve para revelar significados mais profundos, de caráter
figurativo (conotativo).
Do fichamento devem constar, ainda, as
passagens que nos permitem chegar a determinadas conotações, com a indicação da
página e parágrafo.
(Revivendo Maria Lúcia de
Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins em Temas de FILOSOFIA) – Editora Moderna – São Paulo, 1992.