sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A INTERPRETAÇÃO - A CRÍTICA - A PROBLEMATIZAÇÃO - TEMAS DE FILOSOFIA – VARGAS DIGITADOR – POSTADO NO BLOG


A INTERPRETAÇÃO

TEMAS DE FILOSOFIA – VARGAS DIGITADOR – POSTADO NO BLOG

          É o segundo nível de leitura racional. Procura os significados não explícitos, escondidos, ou seja, os significados conotativos ou figurados. Perguntamos o que o autor quer mostrar ou demonstrar com este texto? Quais os valores que aparecem? Como as ideias apresentadas, o ponto de vista assumido, se ligam-se à época da produção do texto? Qual a relação do texto com o atual contexto histórico e social?

          Enfim, é nesse nível que vamos analisar mais a fundo os diversos elementos que compõem o texto, examinando as relações que eles mantêm entre si e como cada um influencia o outro. É nesse nível, também, que cruzamos ideias e valores presentes no texto com a situação histórica e social da época em que foi escrito e, às vezes, até com a biografia do autor. Ao fazer isso, podemos, inclusive, avaliar o significado das ideias apresentadas no texto na época de sua criação. Avaliamos o grau de novidade que ele apresentou então.

A CRÍTICA

        O terceiro nível de leitura racional é o momento da crítica. Não a crítica gratuita, baseada no gosto e na opinião individual, subjetiva, mas aquela que surge do nosso entendimento da proposta do próprio texto. Podemos verificar se o autor atinge ou não os objetivos a que se propõe; se é claro, coerente; se sua abordagem é original e se traz alguma contribuição para o assunto tratado.

          Trata-se da crítica objetiva, que não depende do nosso gosto: feio ou bonito? Depende do gosto?, e que está fundamentada em aspectos do próprio texto. Não é necessariamente uma crítica negativa, pois permite apontar, também os pontos positivos do texto.
          Ao chegar a esse ponto da leitura, teremos completado a análise do texto. Saberemos dizer do que ele trata, quais os pontos enfocados, com que ponto de vista o assunto foi tratado, se o autor foi coerente ao expor suas ideias e qual a sua contribuição dentro da área. A partir desse momento, podemos dizer se o texto é bom, ruim ou médio, independente de termos gostado dele ou não. É importante frisar que as críticas feitas por pessoas diferentes podem ser divergentes. Esse fato é positivo, pois a diversidade aguça a nossa curiosidade e nos permite perceber aspectos do texto que não tinham sido notados.

                                             A PROBLEMATIZAÇÃO

          É o quarto e último nível de leitura racional. Nesse nível nos distanciamos do texto e pensamos em assuntos ou problemas que, embora levantados a partir de sua leitura cuidadosa, vão além dele. É quando nos perguntamos: naquela época, ou sociedade, era assim; e hoje, como é? Tal coisa é válida para X; e para Y, como é?

          Ao problematizar, estamos indagando sobre outras possibilidades e exercitamos a imaginação, a coerência, o raciocínio. Abrimos nossos olhos para novos significados, para novas leituras do mundo.

          Concluindo, a necessidade de aprender a ler é muito mais ampla e profunda do que normalmente se coloca, pois envolve a prática de dar significados ao mundo que nos cerca e à nossa própria vida. É tarefa que pode ser conseguida através dos sentimentos e também da razão.

A leitura racional, como vimos, apresenta uma série de etapas que correspondem ao aprofundamento gradual dos significados presentes no texto, aprofundamento este que pode nos levar, para além do próprio texto, até os valores implícitos, escondidos, que presidiram a sua criação. Este é o caminho crítico que nos permite chegar à problematização da nossa realidade e que nos leva, portanto, ao filosofar.


(Revivendo Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins em Temas de FILOSOFIA) – Editora Moderna – São Paulo, 1992.