quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A DENOTAÇÃO - TEMAS DE FILOSOFIA – VARGAS DIGITADOR – POSTADO NO BLOG

A DENOTAÇÃO

 TEMAS DE FILOSOFIA – VARGAS DIGITADOR – POSTADO NO BLOG

          É o primeiro nível de leitura racional de um texto. Visa a compreensão do sentido mais literal, direto e superficial do texto e envolve as seguintes etapas:
1º) Levantamento de aspectos diversos, como:
a)    Vocabulário: grifar e procurar no dicionário as palavras desconhecidas ou cujo sentido não tenha ficado claro;
b)    Dados sobre o autor, situação histórica e finalidade para a qual foi escrito o texto (para uma aula? Uma conferência? Artigo de jornal? Capítulo de um livro? Carta? Resposta a alguém?);
c)     Autores, teorias, obras, eventos, comentados no texto e que nos são desconhecidos.
2º) procura da ideia central do texto, respondendo-se às perguntas: do que trata o texto? Qual o assunto discutido?
3º) análise do desenvolvimento do raciocínio do autor: como o autor trata essa ideia central: se é um ensaio sobre determinado assunto, de onde ele começa e quais as ideias, argumentos e fatos que usa para sustentar seu raciocínio? A que conclusão chega?
          No momento em que conseguimos perceber como o autor montou seu texto, nós entramos na posse de sua estrutura lógica, revelada pelo encadeamento das ideias que devem desembocar na conclusão.
          Embora a compreensão de um texto literário (ficcional), por exemplo um conto ou um romance, seja diferente da compreensão de um ensaio – de um texto teórico (não-ficcional) -, é possível observar essas mesmas etapas. O texto literário também apresenta uma ideia central e um encadeamento lógico detectado através das situações apresentadas que levam a um final (não necessariamente a uma conclusão). As perguntas que nos orientam permanecem as mesmas: como foi montada a história? quais os aspectos importantes que foram demonstrados? Respondendo a essas questões, encontramos o enredo, que corresponde ao nível denotativo do texto ensaístico. O mesmo se aplica a um filme ou a uma novela de televisão.



(Revivendo Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins em Temas de FILOSOFIA) – Editora Moderna – São Paulo, 1992.

LEITURA RACIONAL - TEMAS DE FILOSOFIA - VARGAS DIGITADOR - POSTADO NO BLOG


LEITURA RACIONAL 


Esse tipo de leitura exige uma compreensão mais abrangente do texto e mobiliza, além do sentimento, as capacidades racionais do leitor, como, por exemplo, a capacidade de analisar o texto, separar suas partes, estabelecer relações entre elas e outros textos, sintetizar as ideias do autor etc.
          Nesse nível, estabelecemos um diálogo com o texto, fazendo perguntas que nos levem a compreender sua forma de construção e seus significados mais profundos. Os textos, em geral, não são construções transparentes, não nos entregam totalmente os seus significados logo numa primeira leitura. Temos, na verdade, de conquistar o texto, respeitando suas características próprias que o fazem diferente dos demais.
          Façamos algumas perguntas ao texto sobre sua forma de construção. Em que tempo de verbo está escrito? Em que pessoa? Há um narrador? É uma descrição, uma narração, um diálogo dramático? É prosa ou poesia?
          Vemos que é um texto em prosa, escrito na primeira pessoa do singular, no presente e no qual um narrador conta várias coisas.
          E que coisas são essas? A vontade de escrever um livro e as dificuldades que encontra, entre afazeres profissionais e domésticos, para sentar e concretizar seu desejo.
          Podemos nos dar por satisfeitos com essa leitura. Mas será que o texto não nos conta mais nada? Quem é o narrador?  Vamos ao texto, propriamente dito, para buscar tais respostas?
Os instrumentos de filosofar
          Hoje é o primeiro dia em que me sinto realmente em férias. E já é janeiro. Passou a correria da entrega de notas, reuniões de conselhos de classe, recuperação, fechamento dos diários de classe, seguida da outra correria, a preparação das festas de fim de ano. As compras, as visitas, a comida, o trânsito, o calor, a árvore a ser arrumada... Mas, hoje, finalmente em férias, posso começar a escrever outra vez.
          Hummm, estou sentindo um cheiro estranho. O que poderá ser? Nossa! Esqueci o feijão no fogo! Queimou. Lá se foi o meu almoço.
          Ó ilusão! Agora ouço um barulho. Será a campainha? Sempre posso fingir que não há ninguém em casa. Mas não é a campainha. O barulho continua, sempre igual e nos mesmos intervalos de tempo. Ah! É o telefone. Já tocou umas dez vezes. Talvez seja algo importante. Será que aconteceu alguma coisa com as crianças e estão querendo me avisar? É melhor atender logo.
          - Alô! Bom dia, mãe... O quê? Tenho de ir aí para ver o que está acontecendo? (Suspiro) Tá bom, mãe. Já estou indo...
          Pois é, acho que vou deixar para escrever amanhã.

          Captaram  o assunto? O narrador? É uma professora, pois tem de dar conta de notas, reuniões, recuperação, além da preparação das festas de Natal. E que situação o narrador está vivendo no momento? Está em férias, sem ter mais nenhuma daquelas obrigações profissionais. E, em férias, está escrevendo. Não é estranho que as férias signifiquem um outro momento de trabalho? Escrever também é um trabalho, prazeroso, realizador, mas, mesmo assim, um trabalho. Só que, ao lado deste, aparecem outros trabalhos, indispensáveis: fazer a comida, tomar conta dos filhos. Assim, começamos a perceber as dificuldades da mulher que trabalha fora de casa: na verdade, ela tem dupla jornada de trabalho, uma em casa, outra no emprego. Começamos a perceber as dificuldades das professoras: além de profissionais, são também mulheres, esposas, mães, donas de casa, filhas. O nosso olhar se modifica, pois passamos a encará-las não mais solidificadas em um papel, mas como pessoas humanas, com várias dimensões, várias dificuldades e várias formas de realização.
          Vemos, portanto, que essa historinha, aparentemente tão simples, tem outros significados mais escondidos. Podemos, então, dizer que a leitura racional de um texto é uma forma de (re) criar esse texto, visando a sua compreensão mais profunda. A (re) criação é feita a partir das perguntas que fazemos ao texto. E, como as perguntas são nossas, estamos, nós, leitores, tendo um papel ativo nessa recriação, nessa leitura, nessa atribuição de significados que estão latentes no texto mas não totalmente à mostra.
          A leitura racional comporta, assim, uma subdivisão em níveis, que constituem etapas de aprofundamento da interpretação: denotação, interpretação, crítica e problematização. É como se entrássemos num rodamoinho e fôssemos dando voltas, cada vez mais profundas.



(Revivendo Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins em Temas de FILOSOFIA) – Editora Moderna – São Paulo, 1992.