A
INTERPRETAÇÃO
É o segundo nível de leitura racional. Procura os significados
não explícitos, escondidos, ou seja, os significados conotativos ou figurados.
Perguntamos o que o autor quer mostrar ou demonstrar com este texto? Quais os
valores que aparecem? Como as ideias apresentadas, o ponto de vista assumido,
se ligam-se à época da produção do texto? Qual a relação do texto com o atual
contexto histórico e social?
Enfim, é nesse nível que vamos analisar mais a fundo os
diversos elementos que compõem o texto, examinando as relações que eles mantêm
entre si e como cada um influencia o outro. É nesse nível, também, que cruzamos
ideias e valores presentes no texto com a situação histórica e social da época
em que foi escrito e, às vezes, até com a biografia do autor. Ao fazer isso,
podemos, inclusive, avaliar o significado das ideias apresentadas no texto na
época de sua criação. Avaliamos o grau de novidade que ele apresentou então.
A CRÍTICA
O terceiro nível de leitura
racional é o momento da crítica. Não a crítica gratuita, baseada no gosto e na
opinião individual, subjetiva, mas aquela que surge do nosso entendimento da
proposta do próprio texto. Podemos verificar se o autor atinge ou não os
objetivos a que se propõe; se é claro, coerente; se sua abordagem é original e
se traz alguma contribuição para o assunto tratado.
Trata-se da crítica objetiva, que não depende do nosso
gosto: feio ou bonito? Depende do gosto?, e que está fundamentada em aspectos
do próprio texto. Não é necessariamente uma crítica negativa, pois permite
apontar, também os pontos positivos do texto.
Ao chegar a esse ponto da leitura, teremos completado a
análise do texto. Saberemos dizer do que ele trata, quais os pontos enfocados,
com que ponto de vista o assunto foi tratado, se o autor foi coerente ao expor
suas ideias e qual a sua contribuição dentro da área. A partir desse momento,
podemos dizer se o texto é bom, ruim ou médio, independente de termos gostado
dele ou não. É importante frisar que as críticas feitas por pessoas diferentes
podem ser divergentes. Esse fato é positivo, pois a diversidade aguça a nossa
curiosidade e nos permite perceber aspectos do texto que não tinham sido notados.
A
PROBLEMATIZAÇÃO
É o quarto e último nível de leitura racional. Nesse nível
nos distanciamos do texto e pensamos em assuntos ou problemas que, embora
levantados a partir de sua leitura cuidadosa, vão além dele. É quando nos
perguntamos: naquela época, ou sociedade, era assim; e hoje, como é? Tal coisa
é válida para X; e para Y, como é?
Ao problematizar, estamos indagando sobre outras
possibilidades e exercitamos a imaginação, a coerência, o raciocínio. Abrimos nossos
olhos para novos significados, para novas leituras do mundo.
Concluindo, a necessidade de aprender a ler é muito mais
ampla e profunda do que normalmente se coloca, pois envolve a prática de dar
significados ao mundo que nos cerca e à nossa própria vida. É tarefa que pode
ser conseguida através dos sentimentos e também da razão.
A
leitura racional, como vimos, apresenta uma série de etapas que correspondem ao
aprofundamento gradual dos significados presentes no texto, aprofundamento este
que pode nos levar, para além do próprio texto, até os valores implícitos,
escondidos, que presidiram a sua criação. Este é o caminho crítico que nos
permite chegar à problematização da nossa realidade e que nos leva, portanto,
ao filosofar.
(Revivendo Maria Lúcia de
Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins em Temas de FILOSOFIA) – Editora Moderna – São Paulo, 1992.
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