quarta-feira, 2 de março de 2016

DISTINÇÃO ENTRE OBRIGAÇÃO E RESPONSABILIDADE – CONCEITOS – SINÓTICO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – VARGAS DIGITADOR - http://vargasdigitador.blogspot.com.br/



DISTINÇÃO ENTRE OBRIGAÇÃO E
RESPONSABILIDADE – CONCEITOS –
SINÓTICO DE RESPONSABILIDADE CIVIL 
– VARGAS DIGITADOR -


- O Art. 927/CC categoriza o dever de indenizar como uma obrigação. Segundo Cavallieri “Vale dizer, entre as modalidades de obrigações existentes (dar, fazer, não fazer), o Código incluiu mais uma – a obrigação de indenizar.”

→ Distinção entre obrigação e responsabilidade:

- Como não há sombra sem corpo físico, não há também responsabilidade sem uma correspondente obrigação  - o alemão Alois Brinz foi o primeiro a visualizar dois momentos distintos na relação obrigacional: shuld (débito) e haftung (responsabilidade). Correspondendo assim, a prestação ao débito; e o inadimplemento, à responsabilidade. Desse modo:

     a)    Obrigação – é sempre um dever jurídico originário (para alguns, primário);
   b)   Responsabilidade – é um dever jurídico sucessivo (ou secundário), decorrente da violação do dever jurídico originário.

Obs.: Pode haver:

    a)    Débito sem responsabilidade (ex: obrigações naturais, como a dívida de jogo).
    b)    Responsabilidade sem débito (ex: aval, fiança).

- O CC/02, no art. 389 faz essa distinção entre obrigação e responsabilidade: “Não cumprida a obrigação [originária], responde o devedor por perdas e danos [sucessiva] (...).”

- Conceito de responsabilidade civil – é um dever jurídico derivado (ou secundário ou sucessivo) que tem o agente de ressarcir ou reparar os danos causados por sua conduta (em regra, culposa) a terceiros.

 ⃰   Obrigação é um dever jurídico originário (ou primário), que tem duas fontes primordiais: a lei (vontade do Estado) e o contrato (vontade humana). Uma vez violado esse dever jurídico originário, surge o dever jurídico derivado (ou secundário ou ainda sucessivo), denominado responsabilidade.

  ⃰   “de ressarcir ou reparar”. Os autores brasileiros não fazem distinção entre ressarcimento ou reparação e indenização. Os autores estrangeiros, principalmente os franceses, fazem esta distinção: Uma coisa é ressarcimento ou reparação. Outra coisa é indenização. Ex: fala-se em indenização por perdas e danos, o que não é técnico.

Ressarcimento ou reparação: corresponde a um ato ilícito. Esse ato gera um dano que vai ser ressarcido ou reparado.

O dano patrimonial é ressarcido. O dano moral é reparado.

Ex: um acidente entre dois automóveis. Houve um ato ilícito culposo (negligência, imperícia ou imprudência); que causou um dano (patrimonial e/ou moral); que será ressarcido e/ou reparado.

Indenização: decorre de um ato lícito. Esse ato não vai gerar um dano, mas sim um prejuízo, que será indenizado (doutrina moderna – Prof. Guilherme Peña).

Ex: é o caso de uma propriedade privada que é desapropriada. O Estado pratica um ato lícito (expropria o bem). Esse ato lícito gera prejuízo, porque alguém perde a propriedade (valor econômico). Esse prejuízo será indenizado.

Quando se fala em ressarcimento e reparação, trata-se de ato ilícito, que é o caso da responsabilidade civil. Falar em responsabilidade civil por ato lícito é absolutamente equivocado.

Responsabilidade Civil pressupõe ato ilícito e, por conseguinte, dano.

▪  “os danos causados por conduta culposa do agente a terceiros”. Diz respeito aos pressupostos da responsabilidade civil. São eles: pressuposto subjetivo, pressuposto objetivo e o pressuposto causal.

     a)    Pressuposto subjetivo: é a conduta culposa, o que compreende o dolo. Em alguns casos a prova da culpa é dispensada, se a responsabilidade for objetiva.
      b)   Pressuposto objetivo: é o dano.
   c)    Pressuposto causal: é o nexo de causalidade. O dano deve ter ocorrido em conseqüência da conduta.

1.2 Histórico:
      
Desenvolveu-se no ordenamento jurídico pátrio por influência da jurisprudência francesa, a partir do Código Napoleônico.

- O CC/1916 delineou o tema, sem reservar-lhe um título autônomo, muito se utilizando da doutrina e jurisprudência para a solução dos litígios concretos.

- Já o CC/2002 veio tratar o assunto em um título autônomo, “apresentando notável avanço, com progressos indiscutíveis” (I Jornada de Direito Civil – Enunciados CJF).

- Embora conservasse ipsis literis alguns dispositivos, atualizou-se em outros.

⃰  Deficiência: o fato de não haver estabelecido a extensão e os contornos do dano moral e sua liquidação, é uma crítica que alguns fazem, porém, são questões a serem decididas pelo juiz, no caso concreto, o que está em perfeita sintonia, em consonância com a nova ordem jurídica: inserção de cláusulas gerais que permitem ampliar a esfera de liberdade do julgador, abrindo-se para a aplicção dos princípios.

1.3  Objetivo da Responsabilidade Civil:

→  A principal razão da existência da responsabilidade civil é a reparação do dano sofrido pela vítima. Uma vez causado, o agente tem o dever de repará-lo.

- Obrigar o agente causado do dano a repará-lo inspira-se no mais elementar senso de justiça, pois o dano causado rompe o equilíbrio econômico-jurídico anteriormente existente entre agente e vítima.

→ Há uma necessidade fundamental de se restabelecer tal equilíbrio, restituindo ao prejudicado o status quo ante, colocando-se a vítima na mesma situação anterior à lesão.

→ Impera ainda o princípio da restitutio in integrum, que visa, tanto quanto possível, repor à vítima a integralidade do dano sofrido. Isso se faz através de uma indenização fixada em proporção ao dano, por “indenizar pela metade é responsabilizar a vítima pelo resto” (Daniel Pizzaro). No mesmo sentido, leciona Cavalieri: “Limitar a reparação é impor à vítima que suporte o resto dos prejuízos não indenizados.”

1.4 Funções da Responsabilidade Civil:

           1.4.1     Reparatória:
Visa satisfazer o interesse da vítima quanto à reparação do dano por ela experimentado. Implementa-se através de valor capaz de reparar ou compensar o prejuízo.

          1.4.2     Inibitória:

Visa satisfazer o interesse social, através de mecanismos capazes de desestimular à reincidência.

1.5 Causas Jurídicas que geram obrigação de reparar:

     a)    Ato ilícito;
     b)    Ilícito contratual;
    c)    Violação de deveres especiais de segurança impostos por lei aos que exercem atividades de risco ou perigosas;
    d)    Obrigações impostas pela lei decorrentes de ato ilícito de terceiros;
   e)    Ato que, embora lícito, enseja a obrigação de indenizar (estado de necessidade do agente; desapropriação realizada pelo poder público em plena conformidade com a lei).


CRÉDITO
SINÓTICO DE RESPONSABILIDADE CIVIL
 Profª Hildeliza Lacerda Tinoco Boechat Cabral
Doutoranda em Ciências Jurídicas pela UNLP

Mestre em Cognição e Linguagem pela UENF

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

REAJUSTAMENTO DAS PRESTAÇÕES - MODELO - TEORIA E PRÁTICA DAS AÇÕES CÍVEIS – VARGAS DIGITADOR http://vargasdigitador.blogspot.com.br/



REAJUSTAMENTO DAS PRESTAÇÕES
- MODELO  - TEORIA E PRÁTICA DAS
AÇÕES CÍVEIS – VARGAS DIGITADOR

Reajustamento das prestações

O reajustamento não se confunde com a revisão, de vez que a sua precípua finalidade é a obtenção da atualização do valor da prestação que se encontra defasado, ou corroído pela inflação, mediante a devida correção pelos índices oficiais. Se a parte pretende seja fixado critério para reajuste de alimentos, a questão não deve ser discutida em termos de revisional, mas encaminhada a reclamação ao juízo onde a pensão alimentícia foi originariamente arbitrada, porquanto se trata de matéria que  não ultrapassa o âmbito de simples execução do julgado. A previsão legislativa está no art. 22 da Lei nº 6.151/77, devendo o juiz da execução fixar o critério de reajuste e a sua periodicidade (RT 651/66). Referida exegese foi devidamente recepcionada pelo art. 1.710 do Código Civil, que assim dispõe: “As prestações alimentícias, de qualquer natureza, serão atualizadas segundo índice oficial regularmente estabelecido”.

MODELO

AÇÃO DE PEDIDO DE ALIMENTOS (quando a ação for promovida por filho menor, a mãe deverá representar ou assistir o menor).



EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA  VARA DE FAMÍLIA
Comarca de ......

............................, brasileira, casada, do lar, domiciliada nesta cidade e residente na Rua ........................, nº....... por seu advogado infra-assinado, com instrumento de procuração incluso (Doc. 1), vem perante Vossa Excelência para propor AÇÃO DE ALIMENTOS, nos termos da Lei nº 5.478/68, contra ................., brasileiro, casado, industriário, domiciliado nesta cidade e residente na Rua ..............., nº......, pelos fatos adiante expostos:

1.    A requerente é casada com o requerido, em regime de comunhão de bens, desde a data de ................. (Doc. 2), nascendo, deste casamento, os filhos menores ......................, de ..............anos, e ...................., de...............anos (Doc. 3 e 4).

2.    O requerido, há cerca de 5 meses, abandonou o lar passando a conviver com outra mulher no endereço acima indicado, deixando de concorrer para a manutenção da família, mesmo sabendo que a requerente, que ora mantém a guarda dos filhos, não exerce qualquer atividade remunerada.

3.    Em face dos encargos de alimentação, vestuário, educação e aluguel, que ficaram sob a responsabilidade da requerente, é justo que os alimentos sejam fixados, desde agora, provisoriamente, em 40% do salário do requerido.

Pelo exposto, em conformidade com a Lei nº 5.478/68 e art. 852 do CPC, requer:

    a)    Que seja expedido ofício à empresa ....................., localizada na Rua ................., nº........., onde trabalha o requerido, determinando que, a título de pensão provisória, seja efetuado o desconto de 40% do seu salário, valor este que deverá ser depositado, mensalmente, na conta nº ........ do Banco .............., em nome da requerente, até o dia 10 de cada mês:

    b)    A citação do requerido para, querendo, contestar a presente, sob pena de revelia e confissão;

     c)    O depoimento pessoal do requerido na audiência que Vossa Excelência designar;

     d)    A intimação do representante do Ministério Público;

     e)      A produção de prova testemunhal, na audiência designada, conforme rol que adiante se apresenta;

     f)     Que, ao final, seja o requerido condenado a pagar, em caráter definitivo, uma pensão no valor que Vossa Excelência arbitrar e condenado, ainda, nas custas processuais e honorários de advogado;

    g)    Que à requerente seja concedido o benefício da Justiça gratuita, em face da comprovada falta de condições de a mesma arcar com as despesas do processo.

                                                                      T. em que
                                                                      E. deferimento

                                               ................, ...de................de 20....

                                               ___________________________
                                                             Advogado(a) – OAB/...


Rol de testemunhas:

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    Crédito: WALDEMAR P. DA LUZ – 23. Edição

    CONCEITO – Distribuidora, Editora e Livraria

domingo, 28 de fevereiro de 2016

SINÓTICO DE RESPONSABILIDADE CIVIL - INTRODUÇÃO TEORIA E PRÁTICA DAS AÇÕES CÍVEIS – VARGAS DIGITADOR - http://vargasdigitador.blogspot.com.br/



SINÓTICO DE RESPONSABILIDADE CIVIL
 - INTRODUÇÃO TEORIA E PRÁTICA DAS AÇÕES
 CÍVEIS – VARGAS DIGITADOR


1 Introdução à Responsabilidade Civil

1.1  INTRODUÇÃO

- “O principal objetivo da ordem jurídica, afirmou o grande San Tiago Dantas, é proteger o lícito e reprimir o ilícito”. (Cavalieri Filho, 2008).

- A ordem jurídica estabelece deveres, conforme a natureza do direito, que podem ser positivos (dar ou fazer) ou negativos (não fazer, tolerar).

Alguns desses deveres atingem a todos indistintamente, sendo absolutos. Outros, atingem a pessoa ou pessoas determinadas, sendo relativos.

       Dever Jurídico – é a conduta externa de uma pessoa, imposta pelo Direito Positivo, por exigência da convivência social.

            Não se trata de um conselho ou recomendação, mas de uma ordem ou comando dirigido aos indivíduos, que a todos se impõe, de forma absoluta, erga omnes, de modo que impor deveres jurídicos importa criar obrigações.

- A responsabilidade Civil está inserida no direito obrigacional, pois, no NCC, as fontes obrigacionais são:

     a)    A vontade humana – contratos, declarações unilaterais de vontade e atos ilícitos;
     b)    A vontade do Estado – lei.

   Atos ilícitos – são condutas positivas ou negativas (ações ou omissões), que podem ser culposas ou dolosas, praticadas por um agente, infringindo um dever de conduta resultando dano a terceira pessoa.

- Há um dever jurídico imposto a todos estampado no art. 186/CC  que é o de não causar dano, não lesar a outrem – neminem laedere – e, cujo descumprimento gera a obrigação de indenizar.

- Há uma tendência moderna em se banalizar a responsabilidade civil, levando à discussão, perante o Judiciário, questões banais e costumeiras que não merecem tutela. É o que Cavalieri denominou “Indústria do Dano Moral”, tão repudiada pela doutrina moderna.

Nesses casos, pessoas buscam desenfreadamente levar vantagem e enriquecer ilicitamente à custa da boa-fé do julgador e à revelia do direito da contraparte.  Nesse sentido,

Enunciado 159 da III Jornada de Direito Civil do CJF (p. 01 do Sinótico):

A matéria que segue abaixo, até voltarmos à pauta da Profª Hildeliza no Art. 186, p.02 está inserido por retirado do blog:


domingo, 17 de outubro de 2010
Responsabilidade Civil (parte 04)
Aula do dia 15/10/2010
d.2) Danos morais
* Conceito: “Toda e qualquer circunstância que atinja o ser humano em sua condição humana, que (mesmo longinquamente) pretenda tê-lo como objeto, que negue sua qualidade de pessoa, será automaticamente considerada violadora de sua personalidade e, se concretizada, causadora de dano moral”. Maria Celina Bodin de Moraes.
* Sucintamente, diz-se que dano moral é a lesão a um direito da personalidade.
* São direitos da personalidade aqueles arrolados de forma exemplificativa nos artigos 11 a 21 do CC, ou no art. 5º da CF, como: nome, honra, integridade física, psíquica e moral, imagem, opção sexual, religiosa etc.
* São consequências do dano moral: dor, tristeza, amargura, sofrimento, angústia, vergonha.
* Previsão constitucional: art. 5º,V e X:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
d.2.1) Espécies de dano moral:
* Dano moral provado ou dano moral subjetivo: é aquele que necessita ser comprovado pelo autor da demanda.
* Dano moral objetivo, presumido ou in re ipsa: é aquele que dispensa prova, como nos casos de abalo de crédito (inclusão indevida do nome no SPC ou SERASA) ou de morte de pessoa da família.
* Dano moral direto: atinge a própria pessoa.
* Dano moral indireto ou dano moral em ricochete: é aquele que atinge a pessoa de forma reflexa, como nos casos de morte de um membro da família em acidente de carro.
:: Ex.: biografia do Garrincha escrita por Rui Castro que abordou a vida sexual e anatomia interna do jogador, invadindo sua privacidade. As filhas ajuizaram ação de indenização por danos morais, alegando que se sentiram ofendidas com as informações da biografia. Mesmo após a morte do Garrincha, permaneceu um bem jurídico: a memória do morto – o nome, a imagem, etc. que é defendida pelos herdeiros.
:: Apesar de serem os direitos da personalidade personalíssimos e, portanto, intransmissíveis, a pretensão ou direito de exigir a sua reparação pecuniária em caso de ofensa transmite-se aos sucessores, nos termos do Código Civil, artigos 12, § único e 943.
d.2.2) Danos morais versus transtornos
Enunciado 159 do CJF: o dano moral não se confunde com os meros aborrecimentos decorrentes de prejuízo material.
* O que a jurisprudência entende por mero transtorno?
(1) A quebra de um contrato. A inadimplência, por si só, não dá origem a dano moral, senão simples aborrecimento. Caso haja lesão a um direito da personalidade, este deve ser provado.
(2) Críticas a celebridades políticas feitas em programa de rádio. Deve ser dada a liberdade de imprensa , direito coletivo que prepondera sobre o individual.
d.2.3) Danos morais da pessoa jurídica.
* A pessoa jurídica pode sofrer dano moral quando é lesada em sua honra objetiva, em seu nome e em sua imagem no meio social.
Súmula 227 do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”.
* Aplicação extensiva do artigo 52 do Código Civil que diz: “aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade”.
* Parte da doutrina entende que, como a pessoa jurídica não possui dignidade própria da pessoa humana, não pode ser indenizada pelo dano material puro, ou seja, aquele desassociado do dano material. Esse posicionamento foi adotado pela doutrina, quando da III Jornada de Direito Civil:
Enunciado 189 do CJF: Na responsabilidade civil por dano moral causado à pessoa jurídica, o fato lesivo, como dano eventual, deve ser devidamente demonstrado.
* Os tribunais não têm seguido o entendimento anterior. É possível observar em determinados julgados a tendência em acolher o dano moral in re ipsa, nos casos de abalo de crédito.
* A controvérsia voltou na IV Jornada de Direito Civil, por meio do enunciado 286:
Enunciado 286 do CJF: Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos.
* Apesar do embate doutrinário, é correto considerar o posicionamento do STJ já sumulado.
d.2.4) Natureza jurídica da indenização por danos morais.
* 1ª corrente: natureza reparatória ou compensatória, sem qualquer caráter disciplinador ou pedagógico.
* 2ª corrente: natureza punitiva ou disciplinadora, tese adotada pelos EUA, chamada de punitives damages. No Brasil, essa corrente encontra respaldo na teoria do desestímulo criada por Carlos Alberto Bittar.
* 3ª corrente: natureza mista de caráter reparatório, principalmente, e pedagógico que só haverá para acompanhar o principal (teoria do desestímulo mitigada). É a corrente que predomina no Brasil, tendo sido reconhecida pela IV Jornada de Direito Civil:
Enunciado 379 do CJF - O art. 944, caput, do Código Civil não afasta a possibilidade de se reconhecer a função punitiva ou pedagógica da responsabilidade civil.
d.2.5) Critérios para a quantificação dos danos morais.
* O juiz encontrará o valor usando alguns critérios:
1) Extensão do dano: deve-se analisar qual foi o bem jurídico atingido. Há uma escala de valores a ser observada, sendo a vida o bem mais valioso.
2) O juiz deve investigar a condição pessoal da VÍTIMA, ou seja, o antes e o depois da lesão. Mesmo sendo dano in re ipsa, tem-se que o dano moral é presumido quanto à sua existência, mas não quanto à sua extensão. Ex.: um pianista que perde a mão em um acidente sofrerá mais que um locutor de rádio que também perde a mão no mesmo acidente.
:: Condição pessoal da vítima não quer dizer condição ECONÔMICA da vítima. Se ela for pobre ou rica, em nada mudará a fixação do valor da compensação. O que poderá ser alterado é o lucro cessante.
Ex.: desabamento do edifício Palace em 1999. Ficaram desabrigadas 176 famílias. O bem jurídico afetado, nesse caso, foi o direito à moradia. O juiz de primeiro grau fixou valores iguais para cada família. O TJ reformou a decisão, fixando valores diferenciados. Foi levado em conta o fato de que algumas pessoas que perderam a casa, não tiveram para onde ir; outras foram para casa de parentes, amigos etc.
3) Tempo da propositura da ação: em regra, quanto mais se demora para promover uma ação de reparação de danos morais, menor é o dano suportado pela vítima. Vale ressaltar que este critério não é adotado de forma unânime pelos julgadores.
* É vedado o tabelamento ou tarifação do dano moral. Este deve ser observado caso a caso, respeitando o princípio da isonomia e da dignidade da pessoa humana.
Súmula 281 do STJ: a indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa.
d.3) Danos estéticos.
* Conceito: dano estético é uma lesão à integridade física da pessoa, em sua parte externa. É lesão morfológica, atingindo a pessoa em sua aparência.
* Havendo dano estético, ocorre o desequilíbrio FÍSICO. Alguns julgados chamam o dano estético de “enfeiamento”. Exemplos: feridas, cicatrizes, cortes superficiais ou profundos na pele, lesão ou perda de órgãos internos ou externos do corpo, aleijões, amputações, etc.
* Os tribunais não admitiam a cumulação do dano moral com dano estético por entenderem se tratar de bis in idem.
* O entendimento jurisprudencial evoluiu, admitindo a cumulação dos danos, entendendo serem searas diferentes:
Súmula 387 do STJ: “É possível a acumulação das indenizações de dano estético e moral.”
* Dano estético versus dano moral: com razão a jurisprudência estabeleceu a diferenciação dos institutos. O primeiro é a alteração morfológica que causa repulsa e o segundo é a dor psíquica.
* Trata-se de dano in re ipsa, dispensando prova.
d.4) A perda de uma chance.
* Histórico: teoria francesa que teve origem na década de 60. Utilizada nos casos em que o ato ilícito tira da vítima a oportunidade de obter uma situação futura melhor. Caracteriza-se quando, em virtude da conduta de outrem, desaparece a probabilidade de um evento que possibilitaria um benefício futuro para a vítima.
* Conceito: “A reparação da perda de uma chance repousa em uma probabilidade e uma certeza; que a chance seria realizada e que a vantagem perdida resultaria em prejuízo”. Caio Mário.
* É preciso que se trate de uma chance séria e real, que proporcione ao lesado efetivas condições pessoais de concorrer à situação futura esperada. Aplica-se, pois, o princípio da razoabilidade.
* Trata-se de teoria recente, mas muito aceita dentro dos tribunais. Seria um “meio termo” entre o dano emergente e o lucro cessante, ou um terceiro gênero de dano patrimonial. Alguns doutrinadores preferem enquadrar a perda de uma chance na categoria de “novos danos”.
* A indenização deverá ser da chance, da perda da possibilidade de alguém auferir alguma vantagem e não dos ganhos perdidos.
* O quantum indenizatório: a indenização, nos casos de perda de uma chance, deve ser reduzida.
Ex.: show do milhão: participante que deixou de ganhar o prêmio máximo por pergunta mal formulada (qual percentual de terras que pertencem aos indígenas, segundo a CF? Não há na CF nenhum artigo que trata do assunto). A participante impetrou ação pedindo os outros 500 mil reais que ela deixou de ganhar. O tribunal de segunda instância confirmou a decisão. O STJ, por sua vez, entendeu diversamente, pois não era certo que, se a pergunta fosse outra, ganharia o prêmio. Sendo a pergunta, porém, corretamente formulada, teria a participante ¼ de chance de acertar (são quatro alternativas). O STJ concedeu ¼ de 500 mil (125 mil).
Decisão: REsp 788.459.
A quantia sugerida pela recorrente (R$ 125.000,00 cento e vinte e cinco mil reais) - equivalente a um quarto do valor em comento, por ser uma “probabilidade matemática” de acerto de uma questão de múltipla escolha com quatro itens) reflete as reais possibilidades de êxito da recorrida. Ante o exposto, conheço do recurso especial e lhe dou parcial provimento para reduzir a indenização a R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais).
* Situações:
a) Perda da chance de cura (teoria aplicada à atividade médica): tem-se a perda da possibilidade de cura. A falta reside em não se dar ao paciente todas as chances de cura ou de sobrevivência.
b) Perda do prazo recursal pelo advogado dá ensejo a pedido, pelo cliente, de perda de uma chance. Observa-se, para fixação do quantum, qual a probabilidade das ações que, em segundo grau, foram revertidas favoravelmente ao recorrente.
AC 70000958868 TJRS – entendeu que o advogado pode ser responsabilizado pela Teoria da perda de uma chance quando perde o prazo para apresentação da defesa ou quando deixa de efetuar o preparo de um recurso.
MANDATO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO.INDENIZACAO POR DANOS CAUSADOS EM VIRTUDE DE PERDA DE PRAZO PARA INTERPOR RECURSO POR FALTA DO PREPARO.DANO CONSISTENTE EM PERDA DE UMA CHANCE. INDENIZACAO DEVIDA. TENDO O MANDATARIO DEIXADO DE REALIZAR O PREPARO DO RECURSO QUE FOI JULGADO DESERTO, DEVE INDENIZAR OS DANOS DO MANDANTE CONSISTENTES, ALEM DE GASTOS COM SUCUMBENCIA E OUTROS, DAQUELES RELATIVOS A PERDA DE UMA CHANCE. RECURSO ADESIVO DA AUTORA PROVIDO. RECURSO DO REU IMPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70000958868, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Beatriz Iser, Julgado em 22/08/2001).

c) Perda da chance de disputa em concurso público: má prestação do serviço de transporte que atrasa e impede o ingresso do concurseiro no prédio de realização de prova.

 Filipe Garcia   

Trabalho complementar de VARGAS DIGITADOR – leia-se (Grifo nosso).

-------- X --------

“Art. 186: o dano moral, assim compreendido todo o dano
extrapatrimonial, não se caracteriza quando há mero
aborrecimento inerente a prejuízo material.”

- Pelo Art. 187, também comete ato ilícito aquele que age com abuso de poder: “excedendo os limites impostos ao seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.

                        Sobre o Art. 187: Enunciado 37 do CJF:

“A responsabilidade civil decorrente do abuso de direito independe de culpa, e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico.”

- “Daí, ser possível dizer que toda conduta humana que, violando dever jurídico originário, causa prejuízo a outrem é fonte geradora de responsabilidade civil”. (Cavallieri) – Obrigação decorrente do ato ilícito       indenizar ou ressarcir o prejuízo causado.

- O Art. 927/CC categoriza o dever de indenizar como uma obrigação. Segundo Cavallieri “Vale dizer, entre as modalidades de obrigações existentes (dar, fazer, não fazer), o Código incluiu mais uma – a obrigação de indenizar.”







CRÉDITO
SINÓTICO DE RESPONSABILIDADE CIVIL
 Profª Hildeliza Lacerda Tinoco Boechat Cabral
Doutoranda em Ciências Jurídicas pela UNLP

Mestre em Cognição e Linguagem pela UENF