quinta-feira, 30 de abril de 2015

DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR – CAPÍTULO 3. QUEM É O ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO – 3ª AULA – PROFESSORA NEUZA – DIREITO FAMESC 8º PERÍODO - VARGAS DIGITADOR



DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR – ANTÔNIO CARLOS GIL – ATLAS S.A. 2015 – CAPÍTULO  3. QUEM É O ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO – 3ª AULA – PROFESSORA NEUZA – DIREITO FAMESC 8º PERÍODO - VARGAS DIGITADOR

3  Quem é o estudante universitário

O Capítulo 2 tratou do professor universitário, dos papéis que desempenha e das competências requeridas para que possa contribuir para a eficácia do processo de ensino-aprendizagem. Mas o professor constitui um dos polos desse processo. O outro é constituído pelos estudantes. Logo, não há como deixar de considerar o papel desempenhado pelo corpo discente nesse processo.

Qualquer livro elementar de Didática ou de Metodologia do Ensino ressalta hoje a importância do corpo discente. Mas essa preocupação do com estudante é relativamente recente há História da Educação. A razão desta mudança pode ser facilmente explicada. Durante muito tempo, no Brasil, e em tantos outros países, o corpo discente das escolas foi constituído por alunos provenientes de estratos de gênero, pois os alunos eram do sexo masculino. Por isso mesmo, o modelo sempre pareceu justo, pois esse modelo preconizava atender a todos os alunos de forma igual e equitativa. No entanto, com o processo de democratização, (ou de massificação) do ensino, passaram a ter acesso à escola, pessoas provenientes de outros estratos sociais, com interesses, motivações e heranças culturais diferentes e com competências e conhecimentos em diferentes graus de desenvolvimento. Esta situação tornou inviável a postura secular do professor de desenvolver sua atividade para um alunado típico.

Este capítulo é, pois, dedicado ao estudo das características do estudante do Ensino Superior. Após estudá-lo cuidadosamente, você será capaz de:

·       Reconhecer a importância das diferenças individuais nas características dos estudantes;
·       Classificar os estudantes segundo suas características psicossocial;
·       Reconhecer a importância da diversidade na condução do processo ensino-aprendizagem;
·       Reconhecer estudantes “problemáticos”; diagnosticar características dos estudantes.

3.1 Como as pessoas se diferenciam

Como integrantes de uma população, os estudantes universitários podem se distribuir segundo determinadas variáveis, como: sexo, idade, estatura, peso, estado civil, nível de rendimentos, religião, nível intelectual, expectativas profissionais, satisfação com o ensino etc. Muitas destas variáveis são relevantes para o ensino. Saber, por exemplo, o que os estudantes pensam acerca do curso que estão fazendo ou quais as suas aspirações profissionais pode auxiliar os professores tanto na redefinição dos conteúdos programáticos e das técnicas d ensino quanto no estabelecimento de estratégias e táticas para lidar com os estudantes. Por essa razão, muitos professores têm grande interesse em conhecer o perfil dos estudantes com quem irão trabalhar.

Algumas informações sobre os estudantes estão disponíveis nos prontuários que são mantidos pelas escolas e de modo geral estão acessíveis para os professores interessados. Mas de modo geral são informações coletadas com finalidades administrativas, o que as torna insuficientes para os propósitos didáticos. Algumas escolas realizam sistematicamente diagnósticos de sua população estudantil com vistas a facilitar o trabalho dos professores. Mas infelizmente são poucas. Assim, se o professor quiser obter informações significativas sobre os estudantes, precisará ele mesmo realizar esse diagnóstico, valendo-se de instrumentos como questionários, entrevistas, registro de observação e testes.

A principal contribuição desses diagnósticos é mostrar quanto os estudantes são diferentes entre si. O professor, ao definir os objetos de ensino, selecionar os conteúdos e determinar as estratégias de ensino, leva em consideração uma certa homogeneidade da classe. Mas naturalmente os estudantes apresentam muitas diferenças entre si. Assim, sabendo como se distribuem os estudantes segundo certas variáveis relevantes, o professor passa a dispor de um conjunto importante de informações capazes de auxiliá-lo no trabalho docente.

Faz parte de nossas tradições cristãs e democráticas admitir que todos são iguais perante Deus e perante a Lei. Mas também é aceito que as pessoas não são iguais entre si, que existem diferenças individuais entre os seres humanos. Qualquer profissional que tenha certo número de subordinados pode facilmente verificar que, mesmo todos trabalhando bem, seus desempenhos são muito diferentes quando se consideram tarefas específicas.

A Psicologia, desde que se constituiu como ciência, preocupou-se com o estabelecimento de leis suficientemente gerais para explicar o comportamento humano. Mas os pesquisadores logo perceberam, ao estudar o comportamento de diferentes sujeitos em laboratórios, que as leis gerais de um fenômeno apresentam importantes variações, a ponto de as diferenças individuais tornarem-se o próprio objeto de investigação de muitos psicólogos. Tanto é que um dos pioneiros da Psicologia, Francis Galton (1822-1911), definiu como um de seus campos a Psicologia Diferencial, que tem como objetivo o estudo das diferenças físicas, intelectuais e de personalidade entre as pessoas.

Embora haja muito questionamento acerta das diferenças entre as pessoas pode-se dizer que as pessoas apresentam diferenças individuais por dois motivos principais: porque já nasceram diferentes umas das outras ou porque passaram por experiências diferentes ao longo de suas vidas. O primeiro motivo refere-se às chamadas variáveis inatas. O segundo refere-se às variáveis adquiridas que se desenvolvem em decorrência da exposição das pessoas ao ambiente.

Embora cada indivíduo seja único, pode-se de certa forma prever o comportamento dos alunos, bem como de qualquer grupamento humano, com auxílio dos métodos e técnicas desenvolvidos pela Psicologia Diferencial. O principal fundamento desta disciplina científica é a “curva de Gauss” ou da ‘”distribuição normal”. Essa curva foi desenvolvida em meados do século XIX, depois  que alguns matemáticos notaram algo muito interessante sobre o modo como o mundo se organiza. À medida que procediam à mensuração de diferentes fenômenos, tais como a altura das pessoas ou a evolução do preço das mercadorias ao longo do tempo, verificaram que os resultados tendiam a se manter próximos da média aritmética. Com base nessas observações construíram a “curva da distribuição normal”, a mais familiar das distribuições de probabilidade e uma das mais importantes em Estatística, que tem a forma de um sino (figura 3.1).

Nas “distribuições normais”, poucos elementos são encontrados nas áreas correspondentes aos extremos da curva. A maioria tende a concentrar-se em torno da média. Muitas das características dos seres humanos, tais como a estatura, o peso e o nível intelectual, apresentam “distribuição normal”, podendo ser representadas de maneira semelhante a essa curva. Muitos traços dos estudantes que são importantes do oonto de vista pedagógico também se distribuem dessa forma.

Um professor poderá constatar, por exemplo, que o gráfico obtido com os resultados de uma prova tecnicamente bem elaborada será muito semelhante a uma “curva normal”. O mesmo tende a ocorrer com outras características dos estudantes, como a prontidão para o aprendizado, a capacidade de memorização, o raciocínio numérico, a extroversão etc.

Nem todas as características dos alunos distribuem-se como a curva de Gauss. Mas ela constitui valioso auxílio tanto para o estabelecimento de previsões acerca do comportamento dos alunos quanto para avaliar a adequação de seus procedimentos pedagógicos. Assim, o professor que procura antecipar os traços e o comportamento de seus alunos com base nessa curva terá certamente menos surpresas do que aquele que não o faz.


 F (x)
        
Acontece em forma de sino

 
                                       x
Figura 3.1 Curva da distribuição normal.

3.2 Como classificar os estudantes

Como os estudantes não constituem uma massa homogênea,uma das maiores preocupações dos professores passa a ser certamente a de obter algum tipo de classificação mediante a qual se torne possível lidar com mais facilidades com determinados grupos de estudantes. Considerando, porém, a complexidade do problema, é de se admitir a precariedade de qualquer tentativa nesse sentido. Com efeito, a separação de estudantes em determinados grupos depende de muitos fatores, tanto de natureza psicológica quando social, econômica, política cultural etc. Mas alguns trabalhos elaborados com essa finalidade podem ser de alguma utilidade para os professores.

A partir da década de 1960, foram desenvolvidas nos EUA e na Europa pesquisas empíricas, que culminaram com o estabelecimento de tipologias de estudantes universitários. Naturalmente cada tipologia foi elaborada com base num contexto cultural, específico, e circunscrito temporalmente. Assim, sua utilização em diferentes contextos só pode ser feita com muitas reservas. Mas a identificação de diferentes tipos de estudantes que frequentam as classes de aulas dos cursos universitários torna-se muito útil para os professores universitários.

3.2.1 A classificação de Mann

Mann e seus colaboradores (1970) estudaram alunos de faculdades americanas sob o ponto de vista emocional, e com base nesses estudos classificaram-nos em oito tipos diferentes: complacentes, ansioso-dependentes, trabalhadores desanimados, estudantes independentes, heróis, franco-atiradores, estudantes que procuram atenção e silenciosos.

Complacentes. Estes estudantes são convencionais, muito dependentes do professor e altamente orientados para as tarefas. De modo geral, sentem-se bem em sala de aula e contentam-se em aprender unicamente o que o professor quer que aprendam. Costumam falar em classe, mas geralmente para concordar com o professor ou para pedir algum esclarecimento. Raramente questionam o controle do professor. Eles estão em classe simplesmente para aprender o que é dado. De modo geral, preferem a leitura à discussão. Como geralmente fazem o que é solicitado, tendem a se sair relativamente bem nas provas, mas não costumam ser muito independentes ou criativos.

Os estudantes complacentes, que correspondem a cerca de 10% da amostra observada por Mann, pode ser auxiliados pelo professor a partir da própria aceitação da dependência. Como acreditam que o professor os aceita, este ode solicitar que se mostrem mais independentes. Assim, o professor pode ajudá-los, encorajando-os a fazer comentários críticos por escrito e a contribuir nas discussões.

Ansiososdependentes.  Frequentemente avaliam negativamente suas próprias habilidades, o que não é de todo infundado, pois nos testes aplicados por Mann apresentaram mais baixos resultados em relação à aptidão verbal que os outros grupos estudados. Durante as provas, estes estudantes costumam apresentar um ar de cansaço e a permanecer em classe o maior tempo possível, revisando suas respostas ou acrescentando “apenas mais uma frase”. Em virtude de sua excessiva ansiedade e habilidades relativamente limitadas, seus resultados com frequência acabam sendo pouco imaginativos, medíocres ou erráticos. Estes estudantes preferem a leitura à discussão e, embora sejam capazes de memorizar detalhes e definições, demonstram dificuldade na compreensão de conceitos complexos.

Trabalhadores desanimados. Estes são estudantes cujos comentários em sala de aula expressam uma atitude depressiva e fatalista em relação a si mesmos e à sua educação. Sentem-0se como pessoas que têm pouco controle sobre o seu aprendizado. Alguns poder ter se esforçado muito no passado para conseguir passar nas provas e hoje não conseguem mais achar prazer na aprendizagem.

Muitos deles são estudantes mais velhos que voltaram à escola depois de certo período de afastamento e acham que é muito difícil voltar a ter o entusiasmo juvenil. Alguns já são casados, e é muito provável que se sintam mais cansados, e preocupados, que a maioria dos estudantes. Embora as aulas não constituam experiência das mais agradáveis para esses alunos, que correspondem a 405 da amostra,. Eles podem ser transformados em participantes ativos por professores inspiradores.

Estudantes independentes.  Esses estudantes, que correspondem a 12% da amostra, são orientados para a aprendizagem, estão atentos ao que o professor pode lhes oferecer, mas perseguem suas próprias metas. Sentem-se bem fazendo o que lhes é pedido e não se esquivam quando solicitados a formular seu próprio pensamento sobre determinado tópico. A maior partes desses estudantes é muito participativa e faz amizade com os professores e se identifica com eles de alguma forma.

Os estudantes independentes geralmente são maduros e aparecem mais frequentemente nas últimas séries dos cursos universitários. Raramente apresentam problemas para os professores, mas, se a qualidade do ensino for ruim, serão provavelmente escolhidos para atuar como prta-vozes das reclamações da classe.

Heróis. Os heróis, que correspondem a 10% do total, tal como os independentes, também dão preferência ao trabalho independente e criativo. Mas, diferentemente daqueles, parecem ansiosos em fazer com que o professor perceba imediatamente que são bons estudantes, embora tendam a decepcioná-lo mais tarde em decorrência de seu mau desempenho nas aulas.

Esses estudantes frequentemente param o professor, após a primeira aula para comunicar o quanto estão interessados na matéria e quanto de conhecimento prévio acerca da matéria já possuem, por meio de leituras anteriores ou de experiência no trabalho. Geralmente, gostam de discussão e não costumam admitir que perderam um debate. Costumam faltar mais do que os outros alunos, tanto em decorrência do desvanecimento da novidade da matéria quanto das primeiras avaliações negativas de seu desempenho.

Franco-atiradores. Estes estudantes são hostis aos professores, difíceis de ser abordados e cheios de cinismo. Correspondem a 9% do grupo pesquisado e têm grande expectativa e uma imagem positiva de si mesmos, mas têm pouca esperança de que o mundo seja capaz de reconhecer seu valor ou de lhes dar uma oportunidade para demonstrá-lo. São rebeldes costumeiros que se sentam longe do professor sempre que possível e costumam fazer comentários pesados a seu respeito. Como geralmente se sentem culpados ou receosos de sua hostilidade, costumam se retirar quando questionados pelo professor acerca de suas iniciativas.

Estudantes que procuram atenção. Esses estudantes, que correspondem a 11% da amostra, gostam de vir às aulas,mas principalmente para ter contatos sociais com outros estudantes ou com o professor. Gostam muito de falar e são afeiçoados à discussão. Para eles, as necessidades sociais predominam sobre as intelectuais. Como gostam de ficar em classe, muitos deles tendem a desenvolver relações pessoais bastante intensas com os professores.

Esses estudantes são capazes de realizar um bom trabalho, desde que se deixe claro para eles que devem se esforçar para que tanto o professor quanto os colegas pensem bem a seu respeito. Também gostam de organizar sessões em grupo para rever a matéria ou para promover festas. Embora não sejam menos inteligentes que os outros estudantes, são menos intelectualizados. Como, porém, são facilmente influenciados pelos outros, o professor habilidoso é capaz de fazê-los se interessar pelos estudos.

Silenciosos. Estes estudantes, que correspondem a 20% da amostra, estão ente os que mais desejam um relacionamento próximo com o professor, mas temem o que ele possa pensar deles ou de seu trabalho. De modo geral, preferem reagir a esse medo com o silêncio e não com a hostilidade.

Esses estudantes muitas vezes ao receptivos às sugestões dos professores para que possam se conhecer melhor. No entanto, com não atraem a atenção e não colocam problemas em sala de aula, muitos desses estudantes permanecem ignorados pelo professor. Por isso, convém que o professor mantenha um registro de seus alunos em que anote como têm se comportado nas aulas  anteriores.

3.2.2 A classificação de Astin

Outra interessante tipologia de estudantes é a elaborada por Astin (1993). Também foi constituída com dados obtidos empiricamente, e apresenta sete tipos de estudantes: o sábio, o ativista social, o artista, o hedonista, o líder, o direcionado para o status e o aluno descomprometido. Assim como a tipologia de Mann, a de Astin foi construída com dados referentes a estudantes norte-americanos. Não pode, portanto, ser utilizada para representar com precisão a população constituída pelos universitários brasileiros, mas serve para esclarecer os professores acerca dos diferente tipos de alunos de cursos superiores.

Os sábios podem ser definidos por três características: habilidade acadêmica, autoconfiança intelectual e habilidade matemática. De acordo com o estudo elaborado por Astin, eles provêm de famílias com altos níveis educacionais, cujos pais desempenham atividades que requerem altos níveis de especialização, como a de professores universitários e pesquisadores científicos.

Os ativistas sociais caracterizam-se pela participação em programas de ação comunitária, pelo auxílio a pessoas com dificuldades, pela pregação de valores sociais e pelo interesse em influenciar as estruturas políticas. Muitos desses estudantes pertencem a grupos raciais e étnicos com menor presença numérica em cursos superiores e são mais frequentes em cursos como Ciências Sociais, Educação, Serviço Social, Psicologia e Teologia.

Os artistas conferem muita importância à criação artística, pretendem destacar-se numa carreira artística e escrever obras originais. Provêm geralmente de famílias detentoras de níveis educacionais relativamente altos e são encontrados não apenas em cursos de Artes, mas também em cursos de Jornalismo, Publicidade e de Letras.

Os hedonistas podem ser definidos em termos de três características comportamentais: beber, fumar e “aproveitar a note”. Muitos desses estudantes admitem que o uso da maconha e de outras drogas deve ser liberado. Originam-se geralmente de estratos sociais mais baixos e interessam-se mais por ocupações que não requerem formação acadêmica.

Os líderes caracterizam-se pela popularidade, autoconfiança social e habilidade de liderança. Seus pais apresentam níveis socioeconômicos relativamente altos. Destacam-se nos debates e apresentam maiores chances de serem eleitos para os órgãos de representação acadêmica. São muito frequentes nos cursos de Direito e de Comunicação.

Os direcionados para o status almejam boa situação financeira, reconhecimento de sua atuação pelos colegas por sua atuação, obtenção de sucesso em negócio próprio e responsabilidade administrativa pelo trabalho de outros. Nos EUA, Astin identificou participação significativa de afro-americanos e descendentes de mexicanos nesta categoria. Estes estudantes aparecem com maior frequência em cursos como os de Administração, Economia e Ciências Contábeis.

Os estudantes descomprometidos manifestam alguma das seguintes expectativas: antecipação da escolha da carreira, mudar para uma área mais promissora, deixar o curso temporária ou permanentemente ou transferir-se para uma faculdade menos exigente.

3.2.1 A classificação de Kuh, Hu e Vesper

Na virada do século, Kuh, Hu e Vesper (2000), também com base em pesquisa empírica, identificaram dez tipos de estudantes. Diferentemente das outras tipologias, esta levou em consideração essencialmente os padrões de engajamento nas atividades universitárias:

Desengajados. Estes estudantes apresentam baixo nível de participação em todas as atividades universitárias, estudam poucas horas por semana e de modo geram tiram notas baixas.

Recreadores. Estes estudantes decidam tempo considerável às atividades esportivas, mas participam pouco de outras atividades, inclusive das atividades artísticas  e culturais,e apresentam baixo nível de interação social.

Socializadores. Apresentam notável nível de interação social com seus pares, mas baixo nível de participação nas atividades acadêmicas, esportivas, culturais e artísticas.

Acadêmicos. Distinguem-se pelo ativo envolvimento nas atividades acadêmicas. Apresentam razoável grau de interação com os pares, mas limitada participação nas atividades artísticas e esportivas. São os que obtêm as melhores avaliações quanto ao desenvolvimento pessoal e a preparação profissional.

Cientistas.  São fortemente marcados pelo envolvimento com atividades de cunho quantitativo, mas não apresentam bons resultados nas atividades de educação geral.

Individualistas. Estes estudantes se distinguem por elevada interação com os pares, participação em atividades artísticas e musicais, muito esforço e relativamente pouco contato com a faculdade. De modo geral, não procuram a opinião de seus professores, embora se envolvam intensamente com os pares e com atividades artísticas.

Artistas. Apresentam elevado nível de participação em atividades artísticas e interação com os colegas e outros membros da faculdade.

Esforçados. Distinguem-se dos demais pelo alto nível de esforço despendido para levar a cabo o curso, embora não dediquem um grande número de horas para os estudos.

Intelectuais. Formam o grupo menos numeroso. Caracterizam-se pelo envolvimento com todas as atividades acadêmicas.

Convencionais. Este grupo é caracterizado por uma mistura de padrões de envolvimento. Mantêm o que é esperado dos estudantes de primeiro ano: alto envolvimento com esportes e exercícios acadêmicos e interação social com os pares; mas baixo nível de interação substantiva com os pares, bem como pouca participação nas atividades culturais e artísticas.

3.3  Como lidar com a diversidade no Ensino Superior

Um importante aspecto a ser considerado na análise do mundo contemporâneo é o da diversidade. Embora ainda vivamos num mundo em que são frequentes as manifestações de opressão de minorias, radicalismo religioso, intolerância política,etnocentrismo e conservadorismo sexual, os governos nacionais, assim como as igrejas,as empresas e tantas outras organizações sociais poucoa pouco vêm descobrindo as vantagens da promoção da diversidade. A homogeneidade é menos criativa, pois conduz à síndrome do pensamento único e toda unanimidade é burra, como dizia Nelson Rodrigues.

As empresas, de modo especial, veem descobrindo que incluir e promover o desenvolvimento de profissionais diferenciados em relação a gênero, etnia, credo e orientação sexual não constitui apenas questão de responsabilidade social e de cidadania, mas também de agregação de valor ao negócio. A diversidade pode representar melhoria na qualidade de trabalho, melhoria na imagem da marca, incremento de competitividade, atendimento mais personalizado, aumento da capacidade de resistência às mudanças de mercado e maior capacidade para reconhecer e valorizar talentos e empregar as ideias de seus empregados (EUROPEAN COMISSION, 2003; MILEM, 2001).

Apesar de o valor da diversidade vir sendo mais reconhecido no âmbito empresarial, onde ala passou a ser entendida até mesmo como vantagem competitiva, seu valor não é menor em outras instituições sociais, já que contribui para diminuir o preconceito, para aprimorar os relacionamentos interpessoais para a prática mais efetiva da cidadania. Diferentes estudos, por sua vez, têm mostrado como as escolas e os estudantes também se beneficiam com a diversidade, ampliando as perspectivas dos estudantes, incrementando seu pensamento crítico e fomentando o seu engajamento intelectual.

Lamentavelmente, uma das características da sociedade brasileira é a acentuada desigualdade socioeconômica, o que se reflete principalmente na relativamente baixa presença de representantes de determinados grupos sociais na universidade.mas graças à efetiva luta de integrantes desses grupos, sua presença vêm se intensificando nos últimos anos. Um exemplo significativo dessa luta é o sistema de cotas para índios e negros, que vem sendo adotado por diversas universidades públicas.

Embora ainda haja muito para ser feito, a presença de negros e de pessoas de outras etnias vem se ampliando nas universidades. Nota-se também a presença cada mais significativa de estudantes com idades superiores à média tradicional. O número de pessoas portadoras de deficiências físicas também vem se ampliando. Verifica-se ainda um número crescente de estudantes com assumida orientação homossexual.

Muitos professores provavelmente não estão preparados para esta diversidade, o que significa que necessitam rever seus quadros de valores e modificar suas atitudes perante os grupos sociais. É importante que todos os estudantes se sintam bem-vindos e que sejam tratados respeitosamente. Daí tornar-se necessário ao professor tratar os estudantes como pessoas e não como integrantes de determinado grupo social, assegurando que os alunos de diferentes grupos tenham a mais ampla possibilidade de participar das atividades discentes.

3.4 /como identificar estudantes “problemáticos”

Em quase todas as classes, os professores identificam um ou mais estudantes cujo comportamento é visto como prejudicial para o desenvolvimento das aulas e que acabam sendo reconhecidos como “problemáticos”.

É natural que os professores tendam a admitir que o problema está nos estudantes e que por essa razão sejam considerados e problemáticos. A atuação desses estudantes costuma ser desgastante para o professor e contribui para que ele não se sinta à vontade em classe, trazendo sérios prejuízos para a aprendizagem dos alunos.

Convém, porém, que os professores, ao procurarem soluções para os problemas decorrentes do comportamento desses alunos, considerem também o que eles próprios vêm fazendo em classe e em que medida isto pode ser de alguma forma contribuir para a ocorrência daqueles comportamentos. Convém, ainda, considerar que os problemas interpessoais envolvem pelo menos duas pessoas e que por isso mesmo, muitos dos problemas, identificados pelos professores, não podem ser debitados unicamente aos estudantes. Designá-los como problemáticos pode ser uma simplificação capaz de prejudicá-los. Se um professor admite que determinado estudante é problemático, é provável que seu relacionamento com ele seja afetado por essa percepção inicial.assim, ainda que seja custoso para o professor, cabe-lhe analisar com cuidado o comportamento desses estudantes para que suas decisões sejam adequadas.

Existem muitas tipologias de alunos problemáticos.apesar de a maioria ter sido elaborada sem fundamentos científicos, algumas delas mostram-se muito atraentes,não apenas porque são simples, mas também porque elaboradas com certa dose de humor. Há, por exemplo, tipologias que classificam esses alunos como: retardatários, apressadinhos, repetitivos,desligados, tagarelas, dominadores, agressivos, intérpretes, críticos, impacientes, “queridinhos do professor” etc. Também há tipologias que identificam o comportamento dos alunos com determinados animais, como, por exemplo: leões (dominadores), macacos (piadistas), papagaios (tagarelas), corujas (mudos), esquilos (tímidos) e pavões (vaidosos).

Essas tipologias até podem ser utilizadas em alguns jogos para favorecer o desenvolvimento de habilidades grupais. Mas não podem ser utilizadas indiscriminadamente para classificar os estudantes de maneira simplista e até mesmo preconceituosa. Há, no entanto, trabalhos desenvolvidos com maior rigor que se propõem não apenas a identificar alunos cujo comportamento é capaz de prejudicar o bom andamento das aulas, mas também a sugerir procedimentos corretivos. McKeachie (2002) dedica várias seções de sua  principal obra a estudantes cujo comportamento contribui para quee sejam considerados problemáticos pelos professores:

Estudantes irritados, agressivos e desafiadores. Estudantes que tanto de forma verbal quanto não verbal manifestam hostilidade ao professor e a outros estudantes.

Estudantes que procuram chamar a atenção e a dominar as discussões, são estudantes que sempre têm alguma coisa a dizer. Brincam, exibem-se, cumprimentam o professor e os colegas e procuram permanentemente colocar-se em evidência.

Estudantes desatentos. São estudantes que geralmente se sentam nas últimas fileiras de carteiras e não se envolvem com as aulas que são ministradas.

Estudantes que não se preparam para as aulas.  São estudantes que não leem o que é solicitado e, consequentemente, não conseguem acompanhar o ritmo da classe.

Estudantes desanimados. São estudantes que demonstram pouco interesse pelas aulas ministradas. Costumam chegar atrasados, fazem poucas anotações e ficam contando os dias que faltam para terminar o período letivo. Muitos desses alunos não têm maior afinidade com o curso e alguns deles dispõem-se a abandoná-lo desde que surja uma oportunidade.

Estudantes lisonjeadores e trapaceadores. São alunos que procuram o professor e dizem que estão impressionados com sua cultura, que têm especial interesse na disciplina que lecionam e até mesmo que o reconhecem como o melhor professor que já tiveram em toda a vida. Embora haja alunos que agem dessa forma com sinceridade, muitos o fazem de forma estratégica, procurando obter vantagens, como, por exemplo, um prazo maior para concluir os trabalhos.

Estudantes que lutam com muitas dificuldades. São estudantes que se deparam com muitas dificuldades para acompanhar o curso. Muitas dessas dificuldades não são temporárias, requerendo, portanto,atenção especial dos professores.

Estudantes com desculpas. São estudantes que estão constantemente pedindo desculpas pela nãorealização de determinada tarefa. Sua atuação provoca muitos constrangimentos aos professores, já que os argumentos apresentados pelos alunos podem ser fraudulentos.

Estudantes que querem a verdade e estudantes que admitem que tudo é relativo.  Há estudantes que se caracterizam por uma visão dualística do conhecimento. Para estes,as coisas têm que ser verdadeiras ou falsas.certas ou erradas. Acham, portanto, que o professor conhece a verdade e que o estudante deve procurá-la por seu intermédio. Por outro lado, há estudantes para os quais os conceitos de verdade e de justiça são relativos. Esses estudantes geralmente são participativos em sala de aula, contribuindo muitas vezes para a geração de conflitos ideológicos.

Estudantes com problemas psicológicos. A detecção de problemas psicológicos constitui atividade complexa que requer o concurso de profissionais habilitados. Mas há estudantes cujo comportamento conduz facilmente à suspeição de que necessitam de atendimento psicológico. Alguns desses sinais são: agressividade, mau humor, preocupação excessiva, temores infundados, irritabilidade, dificuldade de concentração e apatia. Muitos desses estudantes costumam apresentar também sinais evidentes de abuso de drogas ou de álcool. Há instituições de Ensino Superior que mantêm serviços para atendimento desses estudantes. Mas, infelizmente, são em número reduzido, o que faz com que os professores, na maioria dos casos, pouco tenham a fazer.

3.5 Como diagnosticar características dos estudantes

Reconhecer que os estudantes são diferentes entre si e que estas diferenças podem de certa forma ser previstas representa um pount6o muito importante em favor do professor. Mas o que mais lhe interessa é conhecer cada estudante, suas características sociais, traços de personalidade, interesses, expectativas, aspirações, temores, conhecimentos, habilidades e competências.

Nenhum professor imagina ser possível conhecer tudo o que deseja sobre os estudantes. A identificação de algumas dessas características, como os traços de personalidade envolve a aplicação de técnicas de análise psicológica, que são complexas, demoradas e requerem o concurso de especialistas, o que a torna inviável na prática. Mas, mediante a utilização de alguns instrumentos, torna-se possível identificar algumas de suas características mais relevantes em relação ao ensino. Ele pode verificar, por exemplo: o nível de conhecimentos prévios dos estudantes sobre a disciplina, o nível de interesse, a importância que lhe e atribuída, as dificuldades percebidas, a imagem que os estudantes têm do curso e do professor, o nível de satisfação com as aulas etc.

O conhecimento de algumas dessas características é muito importante para promover a chamada avaliação diagnóstica, que tem por finalidade determinar, descrever, classificar e valorar aspectos do comportamento do estudante que são relevantes para a aprendizagem. Essa avaliação diagnóstica visa primeiramente determinar em que medida os estudantes dominam os objetivos do curso. Visa também classificar os estudantes, de acordo com seus interesses, expectativas, histórico instrucional e outras características, como antecedentes familiares, classe social e experiências que contribuíram para sua formação, moldaram sua personalidade ou influenciaram suas decisões educacionais e profissionais (BLOOM, HASTINGS,MADAUS, 1993).

A determinação do nível de domínio prévio dos objetivos é feita mediante a aplicação de um pré-teste dos estudantes. Trata-se de uma avaliação para antecipar possíveis dificuldades dos estudantes em relação ao alcance dos objetivos. Pode servir, portanto, para orientar os estudantes na obtenção dos conhecimentos necessários no alcance dos objetivos pretendidos. Ou, então, para orientar o curso de forma mais realista, programando estratégias alternativas de ensino capazes de engajar mais facilmente os estudantes nas atividades propostas.

Para alguns professores, a realização deste diagnóstico é desnecessária, pois admitem que os objetivos devem ser alcançados a qualquer custo, cabendo aos estudantes que nãof orem capazes de alcançar este nível simplesmente a desistência ou a reprovação. Concepções desta natureza, no entanto, não se ajustam ao ensino contemporâneo, sendo facilmente contestadas tanto com base em argumentos relacionados ao caráter humanista da educação quanto ao próprio desenvolvimentos socioeconômico do país.

A verificação das expectativas pode ser feita mediante solicitação aos estudantes para que comentem os objetivos, os conteúdos e as estratégias de ensino propostas. Esses comentários podem elaborados livremente como respostas a questões como:

Quão útil você acha que esta disciplina será para você?
Quão agradável você acha que será cursar  esta disciplina?

Questões como estas dão ampla liberdade para a formulação de respostas. Mas alguns estudantes podem encontrar dificuldade para respondê-las. Por essa razão, há professores que preferem elaborar questões mais objetivas que possam ser respondidas mediante completamento, como, por exemplo:

Espero que esta disciplina me ajude a: ­­­­­­­­­­­­­­­­_______________________
Uma coisa que gostaria que não ocorresse nesta disciplina é: ­­_____________
Uma coisa que me agrada nesta disciplina é: _____________________

Outra forma prática de verificação das expectativas é a construção de questionários com itens escalonados, como, por exemplo:

Quão útil você acredita que esta disciplina será para sua carreira?

Muito útil        (   )
Útil                  (   )
Pouco útil      (   )
Inútil                (   )

Quão agradável você acha que será cursar esta disciplina?

          Muito agradável      (   )
          Agradável                (   )
          Pouco agradável     (   )
          Nada agradável       (   )

Quão difícil você acha que será esta disciplina?

          Muito difícil             (   )
          Difícil                       (   )
          Fácil                        (   )
          Muito fácil               (   )

Há outras características dos estudantes que são importantes para orientar o seu aprendizado, principalmente aquelas que constituem causas não educacionais da capacidade de aprender, que podem ser físicas, psicológicas ou ambientais.sua identificação,no entanto, envolve procedimentos bem  mais complexos. Constituem muito  e assistente sociais que de professores, mas podem ser incluídas no levantamento de expectativas mais atribuições de médicos, psicólogos e assistentes sociais que de professores. Mas podem ser incluídas no levantamento de expectativas  questões relativas a experiências acadêmicas e profissionais, hábitos de estudo e interesses. Convém, no entanto considerar que não devem ser incluídas questões que possam provocar algum constrangimento aos estudantes.

Os procedimentos aqui indicados para identificar as características dos estudantes são de natureza  interrogativa. Mas não se pode desprezar a importância da observação direta das pessoas para conhecê-las melhor. Por isso, recomenda-se que os professores utilizem também a observação para melhor conhecer as características dos estudantes.

Um problema verificado não apenas nas instituições de ensino, mas também nos mais diversos domínios da vida social é a diminuição dos contatos mais íntimos com as pessoas. Hoje, estamos em contato com  muito mais pessoas do que no passado; do outro lado da cidade, do outro lado do país, ou até mesmo do outro lado do mundo. Mas o nosso contato normalmente não é pessoal. Muitas das atividades que exigiam o contato direto com os estudantes, como a orientação de trabalhos, hoje são feitas principalmente por e-mails. Consequentemente, estamos tendo maior dificuldade para observar e, consequentemente, para entender as pessoas.

Os professores não podem descartar a habilidade de decifrar pessoas pela observação. Elas são necessárias não apenas para caracterizar bem os estudantes, mas também para o desenvolvimento das mais diversas atividades que têm lugar ao longo de todo o processo pedagógico. Mas convém que a observação se faça de maneira metódica e sistemática, com fundamento em teorias e práticas consolidadas.
Leituras recomendadas

ASTIN, Alexander W, Na empirical typology of college students . Journal of College Student Development, v. 34, nº 1, p. 36-46,Jan. 1993.

EUROPEAN COMMISSION, Directonarate-General for Employment, Industrial Relations and Social Affairs. The costos and benefitis of diversity: a study oon methods and indicators to mesure the cost-effectiveness of diversity policies in enterprises., Kent (GB): Centre for Strategy and Evaluation Services, 1º nov. 2003. Disponível em:
http:Europa.eu.int/comm/employment_social/fundamental_Rights/prog/studies_fr.htm>. Acesso em: 20 de out. 2004.
DIMITRIUS, Jô-ELlan; MAZZARELLA, Mark, Decifrar pessoas: como entender e prever o comportamento humano. São Paulo, Allegro, 2000.
Este livro mostra com decifrar as pessoas que não estão ao nosso redor por meio de sua linguagem pessoa e aparência. Sua leitura pode favorecer o conhecimento dos alunos em sala de aula. Mas é necessário que o professor esteja consciente da complexidade do comportamento humano e que decifrá-lo não constitui tarefa fácil. Assim, esse livro pode fornecer pistas para compreender melhor o comportamento dos estudantes,mas não pode ser visto como um receituário infalível.

WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O corpo fala: a linguagem silenciosa da comunicação não verbal, 57, ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

O livro tenta desvendar a comunicação não verbal do corpo humano. Analisa primeiramente os princípios subterrâneos que regem e conduzem o corpo. A partir desses princípios, concepções ou posicionamentos internos. Sua leitura é muito agradável, pois o conteúdo é transmitido não apenas por palavras, mas também por interessantes ilustrações.

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