CPC LEI 13.105 e LEI 13.256 - COMENTADO
- Art. 370 - VARGAS, Paulo S.R.
PARTE ESPECIAL- LIVRO I – DO PROCESSO
DE CONHECIMENTO E DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – TÍTULO I – DO PROCEDIMENTO COMUM –
CAPÍTULO XII – DAS PROVAS - Seção I –
Disposições gerais
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Art.
370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas
necessárias ao julgamento do mérito.
Parágrafo
único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou
meramente protelatórias.
Correspondência
no art. 130 do CPC/1973 com a seguinte redação: Caberá ao juiz, de ofício ou a
requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo,
indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias.
1.
SUPOSTOS
IMPEDIMENTOS PARA A ADMISSÃO DA PRODUÇÃO DE PROVA DE OFÍCIO
Durante muito tempo
pensava-se no juiz como figura, além de imparcial, absolutamente desinteressado
com o resultado do processo. Dizia-se que o bom juiz era aquele que interferia
o mínimo possível no processo, deixando, às partes, as iniciativas
postulatórias e probatórias, tudo em respeito ao princípio dispositivo.
Confundia-se imparcialidade com omissão e neutralidade, preferindo-se o
juiz distante ao juiz participativo. Era a época do chamado “juiz-Olimpo”.
Essa visão está intimamente ligada à ideia do processo como
coisa das partes, em nítida associação do processo com o direito privado. A
doutrina moderna repele tal entendimento, parecendo não haver grande dúvida
entre os doutrinadores que defendem a natureza pública do processo. A partir
dessa mudança de entendimento, passou-se também a encarar a missão do juiz do
processo de uma nova forma, sob um novo ângulo de visão. A figura do juiz
distante e desinteressado, que tudo deixava às partes, em especial no que tange
ao conjunto probatório, não mais responde aos anseios de uma prestação
jurisdicional de qualidade.
As justificativas que impediam a atuação oficiosa do juiz,
no campo probatório, foram corretamente afastadas pela melhor doutrina.
Afirmava-se que, sendo o direito material disponível, a
parte poderia dispor das provas, o que impediria a atuação do juiz em razão do
princípio dispositivo. Para parcela da doutrina, o princípio dispositivo deve
expressar somente as limitações impostas ao juiz, referentes aos atos
processuais das partes voltados diretamente ao direito disponível, e não à sua
atuação probatória. Por outro lado, ainda que o direito seja disponível, o juiz
não é obrigado a compactuar com o desleixo probatório da parte, o que
naturalmente prejudica a qualidade da tutela jurisdicional prestada. Deve
homologar os atos dispositivos do direito, o que não significa sacrificar a
qualidade de sentença genuína de mérito em razão da ausência de prova.
O principio da igualdade das partes não pode servir de
argumento válido à proibição da produção de prova de ofício, considerando-se
que a isonomia real exige um tratamento diferenciado dos sujeitos desiguais,
nos limites de sua desigualdade. A igualdade de partes desiguais, em termos
econômicos ou técnicos, só poderá ser efetivada no processo com a permissão da
atividade instrutória de ofício, o que evitará que a vitória ocorra em razão de
superioridade econômica ou técnica de uma delas. A paridade de armas, exigência
fundamental do contraditório efetivo, muitas vezes exige do juiz uma posição
mais ativa na instrução probatória, como forma de igualar, concretamente, as
chances de ambas as partes se sagrarem vitoriosas na demanda.
Por fim, a atividade instrutória do juiz não contamina sua
indispensável imparcialidade, até mesmo porque o juiz não tem condições de
terminar a priori o resultado da
prova, sendo incorreto imaginar que a determinação da produção de prova possa
beneficiar autor ou réu. Na realidade, se a prova efetivamente convencer o
juiz, seu resultado beneficiará o titular do direito material, sendo esse o
objetivo precípuo da atividade jurisdicional. Por outro lado, não seria parcial
o juiz que deixa de produzir prova quando possível, beneficiando a parte que
não tinha o ônus de provar? Juiz imparcial não é juiz neutro e tampouco juiz
desinteressado na qualidade da prestação jurisdicional. A imparcialidade do
juiz não se garante ao impedi-lo de produzir prova de ofício, mas ao exigir o
respeito ao contraditório em sua produção e a motivação de suas opções no
tocante ao aspecto fático da demanda. (Daniel Amorim
Assumpção Neves, p. 646. Novo Código de
Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
2.
PRODUÇÃO DE PROVA DE OFÍCIO E A REQUERIMENTO DAS PARTES
Na primeira parte do art.
370, caput, deste CPC, abre-se ao
juiz a possibilidade de, mesmo diante da inércia das partes no tocante à
produção probatória, a determinação de tal produção de ofício. Tal postura,
permitida pela lei, deve, até mesmo pela própria lógica do sistema, somente ser
adotada após as partes terem esgotado as provas que pretendiam produzir. Após a
realização da prova pelas partes, e ainda havendo questão não clara ao juiz,
nenhum problema haverá se o juiz determinar a sua produção de ofício. Havendo pedido
das partes para a produção de prova, cabe ao juiz analisar sua pertinência e relevância
e decidir fundamentadamente (art. 93, IX, da CF c.c. art. 11, caput, deste CPC).
Observe-se que, mesmo quando o juiz se lança à instrução probatória
de ofício, estará adstrito aos fatos jurídicos que compõem a causa de pedir do
autor e eventualmente aos fatos impeditivos, modificativos ou extintivos
alegados pelo réu em sua contestação. O que o art. 370, caput, do CPC permite é simplesmente uma atuação oficiosa no que se
refere à produção da prova, jamais um alargamento dos fatos que, narrados pelas
partes, sempre limitarão a atividade do juiz, em respeito ao princípio dispositivo, que se bem
verdade atualmente é visto com alguma ponderação, ainda é a regra geral no
tocante ao interesse maior, sendo permitido ao juiz não soa a produção da
prova, mas também fundamentar sua decisão em fato não alegado pelas partes,
aplicando-se no caso o princípio da cooperação
ao exigir a prévia oitiva das partes em contraditório. (Daniel
Amorim Assumpção Neves, p. 647. Novo
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed.
Juspodivm).
3.
“PODERES”
INSTRUTÓRIOS DO JUIZ?
Entendo
que o art. 370, caput, deste livro do
CPC, perdeu uma excelente oportunidade de desmistificar a ideia corrente de que
a atividade oficiosa na instrução probatória é um poder do juiz. Poderia ter o
dispositivo esclarecido que a produção de provas de ofício não é um dever do
juiz, mas sim uma faculdade, não sendo nula a sentença que aplica o ônus da
prova mesmo quando o juiz poderia ter produzido prova de ofício. Seria uma
ótima forma de reconhecer que os chamados “poderes instrutórios” do juiz, na
realidade, são faculdades instrutórias.
Como não acredito que exista
efetivamente um poder instrutório do juiz, é preciso analisar com redobrada atenção
o Enunciado 297 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC): “O juiz que promove julgamento antecipado do
mérito por desnecessidade de outras provas não pode proferir sentença de improcedência
por insuficiência de provas”.
O elogio ou a crítica ao Enunciado
dependerá da premissa criada pelo juiz para considerar desnecessária a produção
da prova. Se o fez porque já estava plenamente convencido, não há qualquer
motivo lógico ou jurídico que legitime um julgamento antecipado do mérito
fundado na regra do ônus da prova. Afinal, essa regra de julgamento só é
aplicável quando existe dúvida do juiz a respeito dos fatos. Por outro lado, se
a desnecessidade decorreu da postura das partes, que expressamente pediram o
julgamento antecipado do mérito, a aplicação da regra do ônus da prova é
legítima, justamente porque o juiz não tem dever de produzir prova de ofício,
mas somente a faculdade de assim proceder. (Daniel Amorim
Assumpção Neves, p. 647. Novo Código de
Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
4.
PROVA
DE OFÍCIO E ÔNUS PROBATÓRIO
É
importante consignar que a existência da regra do ônus da prova em nada
interfere nos poderes instrutórios do juiz. Pelo aspecto subjetivo, já foi
afirmado que a atuação oficiosa do juiz não favorece quem tinha o ônus da prova
e dele não se desincumbiu, mas a parte que efetivamente tem o direito material.
E também quando o ônus da prova é analisado sob o seu aspecto, ou seja, como
regra de julgamento diante da ausência ou insuficiência de prova, o encargo não
desaparecerá necessariamente pelo fato de o juiz ter produzido prova de ofício.
Basta imaginar que, apesar de ter sido produzida por iniciativa do juiz, tal
prova não tenha gerado elementos suficientes para a formação de seu
convencimento. O que é preciso ficar claro é que mesmo tendo sido produzida a
prova de ofício pelo juiz, tal postura ativa não o impedirá de aplicar a regra
do ônus da prova sempre que a prova produzida tenha se mostrado inconclusiva.
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