CPC LEI 13.105 e LEI
13.256 - COMENTADO – Art. 703, 704, 705, 706 -
DA HOMOLOGAÇÃO DO PENHOR LEGAL – VARGAS, Paulo. S. R.
PARTE ESPECIAL -
LIVRO I – DO PROCESSO DE CONHECIMENTO
E DO CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA – TÍTULO III – DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS – CAPÍTULO XII – DA
HOMOLOGAÇÃO DO PENHOR LEGAL – vargasdigitador.blogspot.com
Art 703. Tomado o penhor legal nos casos previstos em
lei, requererá o credor, ato contínuo, a homologação.
§ 1º. Na petição inicial, instruída com o
contrato de locação ou a conta pormenorizada das despesas, a tabela dos preços
e a relação dos objetos retidos, o credor pedirá a citação do devedor para
pagar ou contestar na audiência preliminar que for designada.
§ 2º. A homologação do penhor legal poderá
ser promovida pela via extrajudicial mediante requerimento, que conterá os
requisitos previstos no § 1º deste artigo, do credor a notário de sua livre
escolha.
§ 3º. Recebido o requerimento, o notário
promoverá a notificação extrajudicial do devedor para, no prazo de 5 (cinco)
dias, pagar o débito ou impugnar sua cobrança, alegando por escrito uma das
causas previstas no art 704, hipótese em que o procedimento será encaminhado ao
juízo competente para decisão.
§ 4º. Transcorrido o prazo sem manifestação
do devedor, o notário formalizará a homologação do penhor legal por escritura
pública.
Correspondência no CPC/1973, art 874, caput,
com a seguinte redação:
Tomado o penhor legal nos casos previstos em
lei, requererá o credor, ato contínuo, a homologação. Na petição inicial,
instruída com a conta pormenorizada das despesas, a tabela dos preços e a
relação dos objetos retidos, pedirá a citação do devedor, em vinte e quatro
horas, pagar ou alegar defesa.
Demais itens sem correspondência no CPC/1973
1.
PENHOR LEGAL
O penhor é
instituto de direito material, tutelado pelos arts 1.431 e ss. Do CC, sendo o
penhor legal regulamentado pelos arts 1.467 a 1.472 do CC. Naturalmente, os
limites do presente livro não permitem maiores digressões a respeito desse
instituto de direito material, bastando em caráter introdutório uma breve
definição do que é penhor legal.
Segundo o art 1.431 do CC, o penhor é
constituído pela transferência efetiva da posse que, em garantia do débito ao
credor ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele, de uma coisa
móvel, suscetível de alienação. Já o art 1.467 do CC prevê as hipóteses de
penhor legal, afirmando serem credores pignoratícios, independentemente de
convenção: (I) os hospedeiros ou fornecedores de pousada, sobre bagagens,
móveis, joias ou dinheiro que os consumidores ou fregueses tiverem consigo na
hipótese de não pagamento das despesas; (II) o dono do prédio rústico ou
urbano, sobre os bens móveis do rendeiro ou inquilino que estiverem guarnecendo
o mesmo prédio, na hipótese de não pagamento dos aluguéis – bem como os
encargos acessórios – ou rendas.
Como consta expressamente dos arts 1.431
e 1467 do CC, somente bens móveis poderão ser objeto de penhor, desde que
suscetíveis de alienação. Essa última exigência tem importante consequência
processual, considerando-se que a alienação mencionada no dispositivo legal é
tanto a convencional como a judicial, de forma que os bens impenhoráveis,
apesar de serem alienáveis por vontade do proprietário, não podem ser alienados
judicialmente, o que basta para impedir que o penhor legal recaia sobre eles.
Bens impenhoráveis, portanto, não podem ser objeto de penhor legal. (Daniel
Amorim Assumpção Neves, p. 1.119/1.120. Novo
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed.
Juspodivm).
2.
PETIÇÃO INICIAL
Como todo processo, a homologação de
penhor legal tem o seu início por meio da petição inicial apresentada pelo
autor. No tocante aos documentos indispensáveis à propositura da demanda, o art
703, caput, do CPC prevê a necessidade de juntada do contrato de locação –
basta a juntada de cópia – ou da conta pormenorizada das despesas, tabela de
preços e a relação dos objetos retidos.
A
exigência de juntada de conta pormenorizada das despesas e tabelas de preços
somente se aplica aos credores descritos no art 1.467, I, do CC, de forma que o
locador e/ou arrendador estão dispensados dessa exigência, devendo apenas juntar
aos autos cópia do contrato de locação ou arrendamento. Apesar de o art 1.468
do CC exigir que a tabela de preços seja impressa, prévia e ostensivamente
exposta na casa, sob pena de nulidade do penhor, a melhor doutrina entende que
a publicidade dos preços é indispensável, mas a necessidade de a tabela ser
impressa não, admitindo-se que a tabela seja manuscrita, algo comum em
estabelecimentos mais simples. O art 703, § 1º, do CPC prevê, por fim, a
indicação da relação dos objetos retidos, mas isso só será possível na hipótese
de o credor ter tomado o penhor pelas próprias mãos; não tendo isso ocorrido,
basta a relação dos bens sobre os quais se pretende realizar o penhor legal. (Daniel
Amorim Assumpção Neves, p. 1.120. Novo
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed.
Juspodivm).
3.
NATUREZA JURÍDICA
No CPC/1973 o processo de homologação
do penhor legal era previsto como cautelar típica, em opção criticada pela
melhor doutrina. Provavelmente, o legislador do diplo legal revogado tinha se
impressionado com a previsão do art 1.470 do CC, que exige a existência do
perigo de demora para que o penhor legal seja admitido, presumindo que este de
alguma forma se confundia com o periculum
in mora, o que justificaria a colocação do procedimento no rol dos
processos cautelares. Ou ainda que tivesse levado em conta que o penhor legal
realizado pelo credor não gera a satisfação de seu direito, funcionando tao
somente como garantia – de natureza real, desde que ocorra a homologação
judicial – do pagamento da dívida.
O
atual Código de Processo Civil não consagra mais as cautelares típicas, tendo
disso o processo ora analisado previsto entre os procedimentos especiais de
jurisdição contenciosa. Por não mais prever a homologação de penhor legal como
cautelar o novo diploma processual deve ser aplaudido, mas os elogios cessam
diante da opção de prevê-lo no rol dos procedimentos especiais de jurisdição
contenciosa, considerando-se o entendimento corrente de sua natureza de
jurisdição voluntária, considerando-se que o autor desse processo busca apenas
a constituição da garantia legal prevista pelo ordenamento material e a
sentença de procedência concede a satisfação desse interesse. No processo de
homologação de penhor legal não interessa ao juiz a efetiva existência ou a
extensão da dívida alegada pelo autor, bastando o preenchimento dos requisitos
formais do penhor legal, o que inclusive impede que a sentença proferida no
processo produza coisa julgada material. (Daniel Amorim
Assumpção Neves, p. 1.120/1.121. Novo
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed.
Juspodivm).
4. HOMOLOGAÇÃO
EXTRAJUDICIAL
Além de afastar a pseudo natureza
cautelar da homologação do penhor legal, o novo diploma processual traz como
novidade a possibilidade de que tal homologação ocorra extrajudialmente.
Segundo
o § 2º do art 703 do CPC o credor poderá, desde que preenchidos os requisitos
para a propositura da ação judicial, optar pelo procedimento de homologação de
penhor legal extrajudicial, a ser realizado perante o notário escolhido pelo
autor. Acredito tratar-se realmente de opção do credor, de forma que a via
judicial continua a ser viável mesmo sendo possível a obtenção do bem da vida
pela via extrajudicial, sendo inclusive nesse sentido o texto legal ao se valer
do verbo “poderá” e não “deverá”. Até porque se os requisitos são os mesmos,
criar um dever ao credor pela busca da solução extrajudicial seria o mesmo que
extinguir o direito de ação direto para as hipóteses de pretensão de
homologação do penhor legal.
Nos
termos do § 3º do art 703 do CPC, recebido o requerimento, o notário promoverá
a notificação extrajudicial do devedor para, no prazo de cinco dias, pagar o
débito ou impugnar sua cobrança, alegando por escrito uma das causas legais de
defesa, hipótese em que o procedimento será encaminhado ao juízo competente para
decisão. Entendo aplicável por analogia o art 231, § 3º, do CPC, de forma que o
termo inicial do prazo de cinco dias é a data da assinatura do aviso de
recebimento pelo devedor.
Ainda
que os requisitos do pedido, previstos no § 1º do art 703 do CPC sejam os
mesmos para a ação judicial e para o pedido extrajudicial, não é preciso muito
esforço para se compreender que os requisitos formais exigidos para a petição
inicial são distintos daqueles existentes para o pedido elaborado perante o
notário. No âmbito administrativo não se exige a qualificação nos termos do art
319, II, do CPC, não há pedido de provas nos termos do inciso VI do mesmo
dispositivo legal e muito menos o valor da causa exigido pelo inciso V. O mesmo
pode se dizer dos requisitos formais da defesa da parte contrária.
Quando
o art 703, § 3º, do CPC prevê que havendo defesa por escrito no prazo de cinco
dias o procedimento será encaminhado ao juízo competente para decisão, permite
a conclusão de que passará a existir um processo judicial que não se dará por
iniciativa do interessado, mas sim do notário. Por outro lado, condiciona o
juízo competente a receber duas peças escritas que certamente não preencherão
os requisitos formais exigidos de uma petiça inicial e de uma contestação.
Note-se
que a opção do legislador para a homologação do penhor extrajudicial é
diferente daquela adotada na consignação em pagamento extrajudicial. Naquela,
havendo controvérsia na via extrajudicial, cabe ao interessado ingressar com
ação judicial, enquanto no processo ora analisado o próprio procedimento
extrajudicial se transforma em processo judicial. Entendo que esse dispositivo
legal reforça de forma significativa a natureza de jurisdição voluntária da
homologação do penhor legal.
O
§ 4º do art 703 do CPC trata da hipótese de ausência de defesa do devedor, o
que também inclui a possibilidade de defesa intempestiva. Sendo omisso o
devedor ou respondendo após o vencimento do prazo de cinco dias, o notário
formalizará a homologação do penhor legal por escritura pública.
Segundo
Enunciado nº 73 do II Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC), “No
caso de homologação do penhor legal promovida pela via extrajudicial,
incluem-se nas contas do crédito as despesas com o notário, constantes do § 2º
do art 703”. (Daniel Amorim Assumpção Neves, p.
1.121/1.122. Novo Código de Processo
Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
PARTE ESPECIAL -
LIVRO I – DO PROCESSO DE CONHECIMENTO
E DO CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA – TÍTULO III – DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS – CAPÍTULO XII – DA
HOMOLOGAÇÃO DO PENHOR LEGAL – vargasdigitador.blogspot.com
Art 704. A defesa só pode consistir em:
I – nulidade de processo;
II – extinção da obrigação;
III – não estar a dívida compreendida entre
as prevists em lei ou não estarem os bens sujeitos a penhor legal;
IV – alegação de haver sido ofertada caução
idônea, rejeitada pelo credor.
Correspondência no CPC/1973 no art 875, ipsis
literis, com exceção apenas do inciso IV que não tem qualquer correspondência
no CPC/1973.
1.
CITAÇÃO
O art 874,
parágrafo único, do CPC/1973 previa que, estando suficientemente provado o
pedido, o juiz poderá homologar de plano o penhor legal. Apesar de existir
corrente doutrinária que entendia cabível a prolação de sentença inaudita altera parte, sendo
posteriormente realizada a citação do réu apenas para pagar a dívida, não havia
como admitir essa circunstancia em razão da nítida ofensa ao principio do contraditório que seria gerado pela
interpretação literal da norma ora analisada. Note-se que na ausência de citação
do réu antes da sentença nem mesmo haveria contraditório postergado, mas
simplesmente a abolição por completo desse princípio constitucional, o que
evidentemente não se pode admitir. Ademais, como lembra a melhor doutrina, o art
1.472 do CC permite ao réu evitar o penhor mediante o oferecimento de caução, o
que evidentemente tornaria impossível a prolação de sentença homologatória sem
a sua citação.
Nesse sentido deve ser elogiado o atual
Livro do CPC que suprime a regra que possibilitava a prolação de sentença de
procedência liminar, sendo exigível a citação do réu para somente depois ser
acolhido o pedido do , se for o caso. (Daniel Amorim
Assumpção Neves, p. 1.122. Novo Código de
Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
2.
RESPOSTAS DO RÉU
O réu será citado para pagar ou alegar
defesa na audiência preliminar a ser designada, parecendo ser esse o aspecto
procedimental diferenciado que torna a homologação do penhor legal um
procedimento especial, sendo realizado o pagamento, haverá reconhecimento
jurídico do pedido, que deve ser homologado pelo juiz; tendo sido tomada a
posse por ato unilateral do credor, os bens deverão ser devolvidos por este, que
a partir do pagamento os manterá com posse injusta, podendo até se configurar a
figura penal da apropriação indébita.
Na
defesa do réu há uma limitação das matérias que podem ser alegadas, o que torna
o procedimento da homologação de penhor legal um daqueles em que existe uma
limitação à cognição horizontal do juízo. Pela previsão do art 704 do CPC, o
réu só poderá alegar em contestação: nulidade do processo, compreendidas aqui
as questões formais do procedimento; extinção da obrigação, que poderá ter
ocorrido por qualquer forma prevista na lei material (p. ex., pagamento,
remição, novação), sendo também admissível a alegação de prescrição; não estar
a dívida compreendida entre as previstas em lei ou não estarem os bens sujeitos
a penhor legal; alegação de haver sido oferecida caução idônea rejeitada pelo
credor.
Existe
doutrina que entende ser o rol previsto pelo art 704 do CPC meramente
exemplificativo, sendo passiveis de alegação outras matérias referentes á
legalidade do penhor, tais como a sua nulidade ou excesso. Ainda que se acolha
esse entendimento, a cognição continua sendo limitada horizontalmente, porque
somente as matérias afeitas ao penhor legal serão admitidas, sendo excluídas
outras como, por exemplo, a existência ou extenção da dívida. Naturalmente, são
alegáveis as matérias de ordem pública, que o juiz pode conhecer de ofício, o
que permite a defesa processual fundada em pressupostos processuais e/ou
condições da ação. (Daniel Amorim Assumpção Neves, p.
1.122/1.123. Novo Código de Processo Civil
Comentado artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
PARTE ESPECIAL -
LIVRO I – DO PROCESSO DE CONHECIMENTO
E DO CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA – TÍTULO III – DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS – CAPÍTULO XII – DA
HOMOLOGAÇÃO DO PENHOR LEGAL – vargasdigitador.blogspot.com
Art 705. A partir da audiência preliminar,
observar-se-á o procedimento comum.
Sem correspondência no CPC/1973
1. PROCEDIMENTO
COMUM
Como a partir da audiência preliminar
observar-se-á o procedimento comum, nos termos do art 705 do CPC, não resta
dúvida da possível realização de uma fase probatória
sempre que o juiz entender necessária a produção de prova, inclusive com
designação de audiência de instrução e julgamento quando for necessária a
produção de prova oral. Não sendo hipótese de produção de prova, ou já tendo
esta sido produzida, caberá ao juiz sentenciar a demanda, tendo maior interesse
prático a sentença que acolhe ou rejeita o pedido do autor (art 487, I, CPC)
ainda que outras espécies sejam possíveis, tais como a sentença homologatória de
reconhecimento jurídico do pedido na hipótese do pagamento da dívida e a
sentença terminativa na hipótese de vício formal insanável. (Daniel
Amorim Assumpção Neves, p. 1.123. Novo
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
PARTE ESPECIAL -
LIVRO I – DO PROCESSO DE CONHECIMENTO
E DO CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA – TÍTULO III – DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS – CAPÍTULO XII – DA
HOMOLOGAÇÃO DO PENHOR LEGAL – vargasdigitador.blogspot.com
Art 706. Homologado judicialmente o penhor legal,
consolidar-se-á a posse do autor sobre o objeto.
§ 1º. Negada a homologação, o objeto será
entregue ao réu, ressalvado ao autor o direito de cobrar a dívida pelo
procedimento comum, salvo se acolhida a alegação de extinção da obrigação.
§ 2º. Contra a sentença caberá apelação, e,
na pendência de recurso, poderá o relator ordenar que a coisa permaneça
depositada ou em poder do autor.
Correspondência no CPC/1973, art 876, caput
abrangendo o § 1º, com a seguinte redação:
Art 876. Em seguida, o juiz decidirá;
homologando o penhor, serão os autos entregues ao requerente 48 (quarenta e
oito) horas depois, independentemente de traslado, salvo se, dentro desso
prazo, a parte houver pedido certidão; não sendo homologado, o objeto será
entregue ao réu, ressalvado ao autor o direito de cobrar a conta por ação
ordinária.
§ 2º. Sem correspondência no CPC/1973
1.
SENTENÇA
Segundo o caput do art 706 do CPC, sendo acolhido o
pedido do autor, em sentença de natureza
constitutiva, consolidar-se-á a posse do autor sobre o objeto; sendo
rejeitado o pedido, em sentença de natureza
declaratória, o objeto será entregue ao réu, ressalvado ao autor o direito
de cobrar a dívida pelo procedimento comum, salvo se acolhida a alegação de
extinção da obrigação(art 704, III, do CPC). É interessante a expressa menção à
manutenção do direito do autor em cobrar sua dívida quando não houver decisão no
processo a respeito da existência da dívida.
Nos termos do art 706, § 2º, do CPC
contra a sentença caberá apelação, em repetição desnecessária da regra geral
consagrada no art 1.009 do mesmo diploma legal. Como essa sentença não consta
do rol previsto no art 1.012 do CPC, a apelação será recebida no duplo efeito,
e nesse sentido não compeende a preocupação do legislador em prever no
dispositivo legal ora analisado a possibilidade de o relator do recurso ordenar
que a coisa permaneça depositada ou em poder do autor. Entendo que em razão do
efeito suspensivo da apelação essa seja uma decorrência lógica e que independe
de decisão do relator.
Apesar de existir doutrina que entende
que essa apelação não terá efeito suspensivo, o que tornaria útil a parte final
da prevista do § 2º do art 706 do CPC, não existe qualquer previsão legal que
corrobore o entendimento. Aparentemente o legislador criou uma regra nova
pensando no sistema revogado, quando a sentença da homologação do penhor legal
não tinha efeito suspensivo porque o CPC/1973 previa tal processo como
cautelar.
Existe certa divergência a respeito de
ser a sentença de procedência desse processo, um título executivo, o que já
admitiria o ingresso de cumprimento de sentença para o pagamento da quantia
assegurada pelo penhor. Ainda que exista corrente doutrinária que defenda a
possibilidade de execução dessa sentença, prefiro o entendimento de que esta
execução é inviável, cabendo ao autor ingressar com um processo judicial de
conhecimento para a cobrança de seu crédito.
Não tendo ocorrido qualquer decisão no
processo a respeito da existência ou extensão da dívida, em razão da limitação
à cognição horizontal criada pelo art 704 do CPC, não há na sentença que julga
procedente o pedido de homologação de penhor legal qualquer declaração a
respeito da existência ou extensão da dívida, matéria alheia ao objeto do
processo. Dessa forma, não tendo ocorrido o reconhecimento judicial da dívida,
não pode valer a sentença de procedência desse processo como título executivo
para cobrança de tal dívida, limitando-se a condição executiva dessa decisão ao
capítulo acessório de condenação do réu ao pagamento das verbas de sucumbência.
Ressalte-se que, na hipótese de o autor
não ter tomado o penhor em ato de autotutela, a sentença de procedência terá
eficácia executiva visando à tomada dos bens da posse do réu. Nesse caso,
existe doutrina, partidária da teoria quinaria das sentenças, que entende
tratar-se de eficácia mandamental da sentença, com ordem dirigida ao réu para
que entregue a posse dos bens ao autor. Seja como for, o principal é entender
que a sentença de procedência nesse caso gera efeitos práticos, tipicamente
executivos, de satisfação do direito do autor, que serão desenvolvidos no
próprio processo, agora em fase de cumprimento de sentença. (Daniel
Amorim Assumpção Neves, p. 1.124/1.125. Novo
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed.
Juspodivm).
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