CPC LEI 13.105 e LEI 13.256 - COMENTADO
- Art. 322, 323, 324 - DA PETIÇÃO INICIAL - Do Pedido - VARGAS, Paulo S.R.
LEI
13.105, de 16 de março de 2015 Código de
Processo Civil
PARTE ESPECIAL- LIVRO
I – DO PROCESSO DE CONHECIMENTO E DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – TÍTULO I – DO
PROCEDIMENTO COMUM
– CAPÍTULO II – DA PETIÇÃO INICIAL – Seção
II – Do Pedido - vargasdigitador.blogspot.com.br
Art. 322. O pedido deve ser certo.
§
1º. Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as
verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios.
§
2º. A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará
o princípio da boa-fé.
Correspondência
no CPC/1973, art. 286 e 293, nesta ordem e com a seguinte redação:
Art.
286. [Este referente ao caput do art. 322 do CPC/2015]. O pedido deve ser certo
u determinado. É lícito, porém, formular pedido genérico: [...]
Art.
293. [Este referente ao § 1º do art. 322 do CPC/2015]. Os pedidos são
interpretados restritivamente compreendendo-se, entretanto, no principal os
juros legais.
§
2º. Sem correspondência no CPC/1973.
1.
CERTEZA
DO PEDIDO
A certeza é exigida tanto no
aspecto processual quanto no material do pedido. No pedido imediato o autor
deve indicar de forma precisa e clara qual a espécie de tutela jurisdicional
pretendida, enquanto que, no pedido mediato, deve indicar o gênero do bem da
vida pleiteado. O direito brasileiro não admite pedido incerto, sendo a certeza
do pedido o mínimo exigível em todo e qualquer pedido (STJ, 1ª Turma, REsp
764.829/MG, rel. Min. Luiz Fux, j. 24/10/2006, DJ 20/11/2006, p. 280). Afinal,
o pedido incerto impede a defesa do réu e o próprio julgamento do mérito (STJ,
2ª Turma, REsp 745.350/SP, rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 24/11/2009, DJe
03/12/2009). (Daniel Amorim Assumpção Neves, p. 545. Novo Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016.
Ed. Juspodivm).
2.
PEDIDOS
IMPLÍCITOS
O pedido deve ser expresso,
não podendo o juiz conceder aquilo que não tenha sido expressamente requerido
pelo autor, bastando para se chegar a tal conclusão a aplicação do art. 492 do
CPC, que proíbe o juiz de conceder diferente (extra petita) ou a mais (ultra
petita) do que foi pedido pelo autor. Também essa regra sofre exceções,
permitindo-se a concessão de tutela que não foi expressamente pedida pelo
autor. (Daniel Amorim Assumpção Neves, p. 545. Novo Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016.
Ed. Juspodivm).
A nomenclatura não é mais a
adequada, devendo-se entender por pedido implícito qualquer tutela não pedida
pelo autor que a lei permite que o juiz conceda de ofício. Não é pedido
implícito, portanto, aquele que decorreria logicamente de outro, mas sim,
aquelas tutelas que a lei expressamente permite que sejam concedidas mesmo sem
ter o autor formulado pedido expresso para sua concessão. (Daniel Amorim
Assumpção Neves, p. 545. Novo Código de
Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
O Superior Tribunal de
Justiça, entretanto, vem ampliando o conceito de pedido implícito para também
admitir a concessão de pedido não elaborado pelo autor, desde que decorra
logicamente de pedido presente na petição inicial. Em julgamento de Recurso
Especial Repetitivo, decidiu que nas demandas por complementação de ações de
empresas de telefonia, admite-se a condenação ao pagamento de dividendos e
juros sobre capital próprio, independentemente de pedido expresso em razão da
decorrência lógica do pedido de complementação (STJ, 2ª Seção, REsp
1.373.438/RS, rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 11/06/2014, DJe
17/06/2014). Na ação rescisória, admite-se como implícito o pedido de novo julgamento
sempre que ele decorrer logicamente do pedido de desconstituição da decisão
impugnada (STJ, 3ª Turma, AgRg no REsp 1.070.825/PR, rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, j. 25/06/2013, DJe 13/02/2014). (Daniel Amorim Assumpção Neves, p.
545. Novo Código de Processo Civil
Comentado artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
3.
JUROS
LEGAIS
Os juros legais são espécie
de pedido implícito, podendo ser concedidos independentemente do pedido do
autor nas condenações a pagar quantia certa. Os juros convencionais dependem de
pedido expresso do autor para serem concedidos pelo juiz (Informativo 438/STJ: 2ª Seção, REsp 1.171.095/RS, rel. originário
Min. Massami Uyeda, rel. para acórdão Min. Sidnei Beneti, j. 09.06.2010, DJe
02.12.2010). (Daniel Amorim Assumpção Neves, p. 545. Novo Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016.
Ed. Juspodivm).
Quanto aos juros moratórios,
é preciso lembrar o teor da Súmula 254 do STF, que admite sua inclusão na
liquidação de sentença mesmo quando omissa a sentença liquidanda. Esse entendimento
torna os juros moratórios uma verdadeira “condenação implícita”, porque o autor
terá direito a eles mesmo que o juiz não os conceda expressamente na sentença. Ainda
haverá um juiz que extinguirá o pedido de condenação do réu ao pagamento de
juros moratórios por falta de interesse de agir com o argumento de que não é necessário
e pedir tutela que o autor ganhará independentemente de sua concessão pela
decisão judicial. Registre-se que o Superior Tribunal de Justiça não admite a
inclusão no cálculo do quantum debeatur de
juros remuneratórios e moratórios capitalizados não concedidos na sentença
transitada em julgado. (Informativo
492/STJ: 2ª Seção, EInf nos EDcl na AR 3.150/MG, rel. Min. Massami Uyeda, j.
29.02.2012, DJe 09.03.2012). (Daniel Amorim Assumpção Neves, p. 545/546. Novo Código de Processo Civil Comentado
artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
4.
CORREÇÃO
MONETÁRIA
No tocante à correção
monetária, apesar de tradicionalmente ser entendida como espécie de pedido
implícito, em termos econômicos não agrega do patrimônio do vencedor mais do
que ele pediu; pelo contrário, tratando-se de atualização do valor do dinheiro,
a aplicação de correção monetária, nas condenações de pagar quantia certa, se
presta para evitar um minus e não
para se entregar um plus (Informativo 445/STJ: Corte Especial,
REsp 1.112.524/DF; rel. Min. Luiz Fux, j. 01/09/2010, DJe 30/09/2010). (Daniel
Amorim Assumpção Neves, p. 546. Novo
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed.
Juspodivm).
O Superior Tribunal de
Justiça entende admissível a inclusão de expurgos inflacionários na fase de
liquidação de sentença, ainda que omissa a sentença, por refletir correção
monetária a recomposição do valor da moeda aviltada pelo processo inflacionário
(Informativo 534/STJ, 2ª Turma, REsp
1.3423.027/PR, rel. Humberto Martins, j. 06.02.2014, DJe 17.02.2014), e que os
índices de deflação na correção monetária também são admissíveis, desde que
preservado o valor nominal do crédito (Informativo
542/STJ, Corte Especial, REsp 1.361.191/RS, rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, j. 19.03.2014, DJe 27.06.2014). (Daniel Amorim Assumpção Neves, p.
546. Novo Código de Processo Civil
Comentado artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
5.
INTERPRETAÇÃO
DO PEDIDO E PRINCÍPIO DA BOA-FÉ
Ainda que mantenha a certeza
como exigência do pedido, o art. 322, § 2º do CPC prevê que a interpretação do
pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé,
dando a entender que a certeza poderá advir não do pedido expresso, mas de
interpretação conjunta da postulação. Tento ser otimista, mas tenho dificuldade
de imaginar como a espécie de tutela jurisdicional e o gênero do bem da vida
poderão não ser indicados expressamente pelo autor, mas descobertos a partir da
tal interpretação conjunta da postulação. É importante lembrar que o pedido
limita a reação do réu, de forma que admitir que um pedido, não elaborado de
forma expressa, pode não ser objeto de contestação com o que se estará violando
o princípio do contraditório. (Daniel Amorim Assumpção Neves, p. 546. Novo Código de Processo Civil Comentado
artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
Entendo que a única forma de
interpretação do dispositivo legal é admitir que o autor tenha feito pedido
ainda que ele não conste expressamente da parte referente à postulação do autor
na petição inicial, mas tenha sido objeto de expressa menção em sua
fundamentação. Segundo o Superior Tribunal de Justiça, deve-se promover a
interpretação lógico-sistemática do pedido, extraindo-se o que se pretende com
a instauração da demanda de todo o corpo da petição inicial e não apenas da
leitura da sua parte conclusiva (STJ, 3ª Turma, REsp 1.263.234/TO, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 11/06/2013. DJe 01/07/2013;
STJ, 4ª Turma, AgRg no REsp 526.638/SP, rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, j. 19/02/2013, DJe 27/02/2013), mas não se admite que a mera descrição
de fatos que poderiam ensejar, em tese, um pedido, sem que haja qualquer
cogitação tendente a exigi-lo, gerem a sua concessão pelo juiz (STJ, sem que
haja qualquer cogitação tendente a exigi-lo, gerem a sua concessão pelo juiz
(STJ, 3ª Turma, REsp 1.155.274/PE, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 08/05/2012, DJe
15/05/2012). (Daniel Amorim Assumpção Neves, p. 546. Novo Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016.
Ed. Juspodivm).
O Superior Tribunal de
Justiça, por exemplo, já decidiu que mesmo tendo sendo narrados fatos que comportem,
em tese, indenização por dano moral, não cabe a condenação do réu sem pedido
expresso do autor nesse sentido (STJ, 3ª Turma, REsp 1.155.274/PE, rel. Min.
Nancy Andrighi, j. 08/05/2012, DJe 15/05/2012. O pedido, portanto, deve ser
sempre expresso, ainda que conste apenas da fundamentação da petição inicial. (Daniel
Amorim Assumpção Neves, p. 547. Novo
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed.
Juspodivm).
LEI
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PARTE ESPECIAL- LIVRO
I – DO PROCESSO DE CONHECIMENTO E DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – TÍTULO I – DO
PROCEDIMENTO COMUM
– CAPÍTULO II – DA PETIÇÃO INICIAL – Seção
II – Do Pedido - vargasdigitador.blogspot.com.br
Art. 323. Na ação que tiver por
objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas, essas serão consideradas
incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor, e serão
incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no curso do
processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las.
Correspondência no CPC/1973, art. 290,
com a seguinte redação:
Art. 290. Quando a obrigação consistir
em prestações periódicas considerar-se-ão elas incluídas no pedido, independentemente de
declaração expressa do autor, se o devedor, no curso do processo, deixar de
pagá-las ou de consigná-las, a sentença as incluirá na condenação, enquanto
durar a obrigação.
1.
PEDIDO IMPLÍCITO NAS OBRIGAÇÕES EM PRESTAÇÕES SUCESSIVAS
Sendo
objeto do pedido do autor o cumprimento de obrigação em prestações sucessivas,
é possível que no momento da propositura da ação nem todas as parcelas estejam
vencidas e na pagas, podendo vencer durante o processo. Caso o autor peça a
condenação do réu a pagar somente as parcelas já vencidas, serão incluídas no
pedido as parcelas que se vencerem durante o trâmite processual e não sejam
pagas ou consignadas pelo réu. (Daniel Amorim Assumpção Neves, p. 547. Novo Código de Processo Civil Comentado
artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
Conforme corretamente já
decidiu o Superior Tribunal de Justiça, as prestações vencidas após o trânsito
em julgado da decisão não podem ser incluídas no cumprimento de sentença por
ausência de título executivo quanto a elas (STJ, 3ª Turma, AgRg no REsp
1.258.646/SP, rel. Min. Massami Uyeda, j. 20/09/2012, DJe 05/10/2012). (Daniel
Amorim Assumpção Neves, p. 547. Novo
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed.
Juspodivm).
LEI
13.105, de 16 de março de 2015 Código de
Processo Civil
PARTE ESPECIAL- LIVRO
I – DO PROCESSO DE CONHECIMENTO E DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – TÍTULO I – DO
PROCEDIMENTO COMUM
– CAPÍTULO II – DA PETIÇÃO INICIAL – Seção
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Art. 324. O pedido deve ser
determinado.
§ 1º. É lícito, porém, formular pedido genérico:
I – nas ações universais, se o autor não
puder individuar os bens demandados;
II – quando não for possível determinar,
desde logo, as consequências do ato ou do fato;
III – quando a determinação do objeto ou
do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu.
§ 2º. O disposto neste artigo aplica-se
à reconvenção.
Correspondência no CPC/1973 art. 286 com
a seguinte redação:
Art. 286. O pedido deve ser certo u
determinado. É lícito, porém, formular pedido genérico:
I – nas ações universais, se não puder o
autor individuar na petição os bens demandados;
II – quando não for possível determinar,
de modo definitivo as consequências do ato ou do fato ilícito;
III – quando a determinação do valor da
condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu.
§ 2º. Sem correspondência no CPC/1973.
1.
DETERMINAÇÃO DO PEDIDO
A determinação
só se refere ao pedido mediato, significando a liquidez do pedido, ou seja, a
quantidade e a qualidade do bem da vida pretendido. Ainda que a determinação do
pedido seja a regra do sistema processual, o próprio art. 324, § 1º, do CPC, em
seus três incisos, prevê as exceções a essa exigência, hipótese em que haverá
um pedido genérico, expressão que não constava do CPC/1973, mas é consagrada
pelo CPC. O § 2º do art. 324 do CPC entende expressamente as hipóteses de
pedido genérico para a reconvenção, o que é natural em razão da natureza de
ação dessa espécie de resposta do réu. (Daniel Amorim Assumpção
Neves, p. 548. Novo Código de Processo
Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
Pedido genérico, que também
pode ser chamado de ilíquido ou indeterminado, portanto, é o que deixa de
indicar a quantidade de bens da vida pretendida (quantum debeatur) pelo autor, sendo admitido somente quando houver
permissão legal em lei. Registre-se mais uma vez que, mesmo no pedido genérico,
cabe ao autor fazer o pedido certo, ou seja, deve determinar a espécie de tutela
e o gênero do bem da vida. . (Daniel
Amorim Assumpção Neves, p. 548. Novo
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed.
Juspodivm).
2.
UNIVERSALIDADE DE BENS
A primeira
possibilidade de pedido genérico verifica-se nas chamadas “ações universais”,
caso o autor não consiga individualizar na petição inicial os bens demandados. Por
ações universais se devem entender as
ações que têm como objeto uma universalidade de bens em situação na qual falte
ao autor condições de precisar, já na peça inicial, os bens efetivamente
pretendidos. A universalidade de bens pode ser tanto fática – por exemplo,
livros que compõem o acervo de uma biblioteca ou um rebanho – quanto jurídica –
por exemplo, herança (STJ, 1ª Turma, AgRg no REsp 906.713/SP, rel. Min. Luiz
Fux, j. 23/06/2009, DJe 06/08/2009). (Daniel Amorim Assumpção
Neves, p. 548. Novo Código de Processo
Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
3.
DEMANDA DE INDENIZAÇÃO QUANDO IMPOSSÍVEL A FIXAÇÃO DO
VALOR DO DANO
A segunda
hipótese de pedido genérico é a impossibilidade ao autor de determinar, de modo
definitivo, as consequências do ato ou do fato ilícito. Na realidade, o ato ou
fato pode ser lícito, desde que danoso e que por ele responda civilmente o réu.
Trata-se de dispositivo utilizado nas demandas de indenização quando não for possível
ao autor a fixação do valor de todos os danos suportados em virtude do ato imputado
ao réu. Essa impossibilidade decorre da circunstância de o ato ainda não ter
exaurido seus efeitos danosos no momento de propositura da demanda. (Daniel
Amorim Assumpção Neves, p. 548. Novo
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed.
Juspodivm).
Registre-se, nesse tocante,
que nas ações de indenização caberá ao autor especificar o prejuízo que
pretende ver ressarcido, ainda que não tenha condições de indicar o quantum debeatur. Expressões genéricas como
“condenação em lucros cessantes”, ou ainda “condenação em perdas e danos”, não
se prestam à necessária individualização do bem pretendido pelo autor,
prejudicando o direito de defesa do réu e maculando o princípio da ampla
defesa. Assim, embora não seja necessária a indicação do valor que se pretende
obter, o pedido deverá conter elementos identificadores da pretensão do autor,
justamente para permitir o exercício do direito de defesa por parte do réu e
limitar a atuação do juiz em sua eventual condenação. (Daniel Amorim Assumpção
Neves, p. 548/549. Novo Código de
Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
Visto que não é legítimo ou
justo exigir do autor que aguarde o momento em que o ato ou o fato tenha
exaurido seus efeitos para somente então ingressar com a demanda judicial, o
ordenamento processual permite o pedido genérico, reservando, no mais das
vezes, para uma posterior fase de liquidação de sentença, a definição do
quantum debeatur. Afirma-se que nem
sempre será necessária uma fase de liquidação subsequente à condenação do réu,
porque não existe nenhum empecilho para que a liquidação do valor seja
realizada durante o próprio processo de conhecimento, o que, inclusive, à luz
do princípio da economia processual, deverá ser buscado sempre que possível
(STJ, 4ª Turma, REsp 285.630/SP, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 16.10.2001,
DJ. 04.02.2002). (Daniel Amorim Assumpção Neves, p. 549. Novo Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016.
Ed. Juspodivm).
Nota-se, na praxe forense,
que a admissão do pedido genérico fundado no art. 324, § 1º, II, do CPC não se
restringe às situações em que seja impossível ao autor indicar o valor do dano
e, por consequência, o quantum debeatur
de sua pretensão, mas também àquelas hipóteses nas quais, apesar de possível,
torna-se difícil ao autor comprovar o valor do dano ab initio. Essa dificuldade- obviamente diferente da
impossibilidade – decorre da necessidade de produção de uma prova complexa, de
natureza técnica, imprescindível para obter o exato valor da pretensão. Nesses casos,
o ato ou o fato que compõe a causa de pedir já exauriu seus efeitos, mas, para
apontarem-se com precisão os efeitos já gerados, faz-se imprescindível a
realização de uma prova técnica. É notória a complacência de nossos juízes de
primeiro grau em aceitar petições iniciais nessas condições, ao remeterem à
fase de instrução – prova pericial – a apuração do quantum debeatur, posição corroborada pelos tribunais superiores
(STJ, 1ª Turma, AgRg no REsp 906.713/SP, rel. Min. Luiz Fux, j. 23/06/2009, DJe
06.08.2009). (Daniel Amorim Assumpção Neves, p. 549. Novo Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016.
Ed. Juspodivm).
Até
se compreende a flexibilização perpetrada por nossos tribunais. Por não ter
outra forma de descobrir o valor de sua pretensão, que não por meio da produção
de uma prova técnica, o autor contrata um particular que realiza referida prova
– isso quando tiver acesso a todos os dados necessários – e com ela instrui sua
petição inicial, indicando o valor obtido pelo técnico como o valor de sua pretensão.
Ocorre, porém, que a referida prova não foi realizada sob o crivo do
contraditório, de modo que é praticamente certa a impugnação do réu, exigindo a
produção da prova em juízo, sob a forma pericial. Por ser possível essa nova
produção, agora judicial e protegida pelas garantias da ampla defesa e do
contraditório, deverá o pedido do réu
ser admitido, sob pena de cerceamento de defesa e de anulação do processo. (Daniel
Amorim Assumpção Neves, p. 549. Novo
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed.
Juspodivm).
Apesar
de todo o tempo despendido pelo autor extrajudicialmente, bem como os valores
gastos para a realização da prova técnica, esta será repetida em juízo, o que
torna praticamente inútil todo o esforço do autor na indicação do valor do dano
que suportou. Em aplicação do princípio da economia processual, admitir-se-á ao
autor que, em vez de gastar tempo e dinheiro na produção da prova extrajudicial,
que fatalmente será desprezada em juízo, simplesmente elabora pedido genérico e
remeta o debate a respeito do quantum
debeatur para a prova pericial a ser realizada durante a fase de instrução
do processo de conhecimento. Sob a perspectiva do autor, portanto, nada mais
justo e correto que a flexibilização do disposto no art. 324, § 1º, II, CPC. (Daniel
Amorim Assumpção Neves, p. 549. Novo
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed.
Juspodivm).
4.
PEDIDO DE DANO MORAL
Interessante
questão diz respeito ao pedido de condenação em danos morais. Muitos autores –
diante da inegável atribuição do juiz em arbitrar o valor desse dano – simplesmente
deixam de consignar o valor de sua pretensão, afirmando terem sofrido demais e
merecerem um valor em dinheiro em razão de tais danos. Não fazem nenhuma menção
ao valor pretendido, simplesmente requerendo que este seja arbitrado pelo juízo
no caso concreto. (Daniel Amorim Assumpção Neves, p. 550. Novo Código de Processo Civil Comentado
artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
O Superior Tribunal de
Justiça admitia, de forma pacífica, que por aplicação do art. 286, II, do
CPC/1973 o pedido em condenação em danos morais poderia ser genérico (STJ, 4ª
Turma, REsp 645.729/RJ, rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 11/12/2012, DJe 01/02/2013.
Esse entendimento era fundado na percepção desse tribunal de que o arbitramento
do valor do dano moral é tarefa exclusiva do juízo, sendo que o autor, mesmo quando
indica um valor em sua petição inicial, estará levando ao processo uma mera
estimativa. Não pareceria ser a melhor solução, porque a tarefa de arbitramento
do valor não é tarefa exclusiva do juízo, que, apesar de ser o responsável por
dar a palavra final a respeito do valor, deverá chegar a essa conclusão com
ampla participação das partes, em respeito ao princípio da cooperação. É no
mínimo estanho que o autor, sujeito que pretensamente sofrer o dano, coloque em
mãos de terceiro juízo), que não participou da relação de direito material, a
livre valoração dos alegados danos, se o sujeito que suportou efetivamente os
danos não tem condições de indicar o valor do dano, por que teri o juiz? (Daniel
Amorim Assumpção Neves, p. 550. Novo
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed.
Juspodivm).
O CPC prevê em seu art. 292,
V, que o valor da causa nas ações indenizatórias, inclusive naquelas fundadas
em dano oral, será o valor que o autor pretende receber. Há duas interpretações
possíveis ao dispositivo legal. Entendo que se o valor da causa tenha que ser
necessariamente o valor do dano moral pretendido, o autor passa a ser obrigado
a indicar um valor pretendido, de forma que estaria afastada a possibilidade de
pedido genérico. Por outro lado, é possível que se entenda que nada mudou, e
que o valor da causa só será o valor do dano moral quando o autor optar por quantificar
sua pretensão, sendo um valor meramente estimativo quando o pedido for genérico.
(Daniel Amorim Assumpção Neves, p. 550. Novo
Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo – 2016. Ed.
Juspodivm).
5.
VALOR
DEPENDER DE ATO A SER PRATICADO PELO RÉU
A terceira hipótese de
permissão de pedido genérico se dá sempre que a valoração do bem pretendido
pelo autor depender de ato a ser praticado pelo réu. Nesse caso, a
impossibilidade de indicação do valor deriva deve ser o réu o responsável por
tal indicação, o que obviamente cria um obstáculo material intransponível ao
autor no momento da propositura da demanda. O exemplo comumente dado é o da ação
de prestação de contas, quando o aturo faz pedido de condenação em prestar as
contas e em pagar o eventual saldo remanescente, sendo que esse segundo pedido
poderá ser genérico quando o valor só puder ser determinado após a efetiva
prestação das contas (ato a ser praticado pelo réu). (Daniel Amorim Assumpção Neves,
p. 550. Novo Código de Processo Civil
Comentado artigo por artigo – 2016. Ed. Juspodivm).
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