Direito Civil Comentado
- Art. 513, 514, 515 - continua
- Da
Preempção ou Preferência –
VARGAS, Paulo S. R.
Parte
Especial - Livro I – Do Direito das Obrigações
Título VI
– Das Várias Espécies de Contrato
(art. 481 a 853) Capítulo I – Da Compra e
Venda
Seção II
– Das Cláusulas Especiais à Compra e Venda –
Subseção
III – Da Preempção ou Preferência
- vargasdigitador.blogspot.com
Art. 513.
A
preempção, ou preferência, impõe ao comprador a obrigação de oferecer ao
vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para que este use
de seu direito de prelação na compra, tanto por tanto.
Parágrafo
único. O prazo para exercer o direito de preferência não poderá exceder a
centro e oitenta dias, se a coisa for móvel, ou a dois anos, se imóvel.
Em
importante ensinamento Nelson Rosenvald a preempção ou preferência como uma
espécie de pacto à compra e venda, que assegura ao vendedor o direito de
prelação, em igualdade de condições com terceiros, caso o comprador do bem
móvel ou imóvel queira futuramente vendê-lo ou dá-lo em pagamento.
Aproxima-se
da retrovenda, mas sem extremado rigor, pois não submete o comprador ao poder
de recompra do vendedor, mas somente obriga aquele a lhe conceder preferência
caso tenha o desejo de vender a coisa a terceiros. Ademais, na retrovenda a
opção pela compra gera a resolução da propriedade, enquanto no direito de
preferência surge uma nova aquisição.
Aliás,
cremos que não existe condição suspensiva ou resolutiva nesse instituto. O
negócio é perfeito e acabado, mas o comprador realiza uma promessa unilateral
de contratar (CC 466), em que surgem dois requisitos determinantes o desejo do
comprador de vender (condição resolutiva) e a vontade do vendedor de recomprar
(condição suspensiva). Faltando uma delas, não se concretiza a cláusula.
O artigo em
comento impõe ao comprador a obrigação de franquear a coisa ao vendedor para
que ofereça, se quiser, igual preço e idênticas condições àquelas dispensadas
por terceiro. a notificação consubstanciará somente o valor e as vantagens
oferecidas pelo terceiro (CC 518).
O parágrafo
único concebeu um prazo decadencial de 180 dias para bens móveis (contados da
tradição) e de dois anos para imóveis (a contar do registro) para o exercício
do direito de preferência. Superado esse prazo, o comprador ficará livre para
vender a quem bem entender, sucumbindo a prelação. Nada impede que as partes
ajustem prazo decadencial convencional inferior ao descrito na norma.
A outro giro, infere-se da
leitura do artigo que a preempção não poderá ser utilizada em outro negócio
jurídico a não ser a compra e venda e como modo indireto de adimplemento na
dação em pagamento. Apesar de usualmente cogitarmos de bem imóvel, não há
restrições à prelação de bens móveis e também incorpóreos. (ROSENVALD Nelson, apud Código Civil Comentado: Doutrina e
Jurisprudência: Lei n. 10.406, de 10.02.2002. Coord. Cezar Peluso – Vários
autores. 4ª ed. rev. e atual., p. 575 - Barueri, SP: Manole, 2010. Acesso 17/09/2019.
Revista e atualizada nesta data por VD).
Correspondendo
ao caput do art. 1.149 do CC de 1916, segundo Ricardo Fiuza, a preempção
ou preferência é cláusula especial à compra e venda garantidora ao vendedor do
direito de recomprar a coisa vendida, se o adquirente resolver vende-la ou
oferece-la à dação em pagamento. Diferencia-se da retrovenda, porque nesta
última o vendedor da coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobra-la,
independente da vontade do comprador, e por versar também sobre coisa móvel,
consoante explicita o parágrafo introduzido.
Desatendida
a preferência, sujeita-se o comprador que alienou a coisa ou deu-a em pagamento
a responder por perdas e danos, não resolvendo, como no direito de retrato, a
venda ao terceiro adquirente (CC 597). Eis o magistério de João Alves da Silva:
“A cláusula de preempção não é uma condição suspensiva, nem resolutiva: não
suspende a plena aquisição do domínio pelo comprador nem faz resolver a venda,
como no pacto de retrovenda ou de melhor comprador. É uma simples promessa
unilateral de revender ao vendedor, em condições iguais às aceitas pelo
comprador, oferecidas por terceiro. Por isso, só assegura ao vendedor um
direito pessoal, que se resolve em perdas e danos, pelo inadimplemento da
obrigação do comprador”. A alienação da coisa sem a prévia ciência ao vendedor,
acerca do preço e das vantagens que por ela lhe oferecem, acarretará, contudo,
responsabilidade solidária ao terceiro adquirente, se este tiver procedido de
má-fé (CC 518).
A oferta ao
vendedor primitivo, titular da preempção, para que exercite o seu direito de preferência,
será feita mediante notificação judicial ou extrajudicial. Cumpre notar que ela
deverá conter todas as condições do negócio (novo contrato), dispondo sobre
preço, forma de pagamento, vantagens oferecidas por terceiro e outros elementos
integrativos da proposta.
Os prazos decadenciais,
conforme o objeto, para o exercício do direito de prelação são modificados
significativamente, em confronto com o ditado pelo art. 1.153 do CC/1916 (v.
art. 516). (João Luiz Alves, Código Civil da República dos Estados Unidos do
Brasil anotado. Rio de Janeiro, E Briguiet, 1917) (Direito Civil - doutrina, Ricardo
Fiuza – p. 274 apud Maria Helena Diniz Código Civil Comentado já impresso pdf 16ª ed., São Paulo, Saraiva, 2.012,
pdf, Microsoft Word. Acesso em 17/09/2019,
corrigido e aplicadas as devidas
atualizações VD).
Na esteira
de Marco
Túlio de Carvalho Rocha, deve-se atentar para o fato de, por limitar o direito
de disposição que tem o proprietário sobre a coisa adquirida, a lei estabelece
prazo máximo de eficácia da cláusula: 180 dias, no caso de a preferência recair
sobre bem móvel; 2 anos, caso tenha por objeto bem imóvel. Vencidos tais prazos
o comprador não mais estará obrigado a dar a preferência ao antigo
proprietário. Tais limites são de ordem pública, não podem ser aumentados por
disposição contratual. (Marco Túlio de Carvalho Rocha apud Direito.com acesso
em 17.09.2019, corrigido e aplicadas as devidas atualizações VD).
Art. 514.
O
vendedor pode também exercer o seu direito de prelação intimando o comprador,
quando lhe constar que este vai vender a coisa.
Orientações
relevantes de Nelson Rosenvald, obriga-nos a redobrada atenção ao contrato,
pois, assim como o comprador fica obrigado a oferecer a coisa ao vendedor
quando desejar negociá-la, caberá ao vendedor que desconfie da intenção do
comprador em vender e exercer o direito de prelação, intimando o comprador para
lhe conceder o direito de preferência.
Se realmente existia o
intuito de vender – que pode ser aferido por diversas maneiras, o comprador,
quando intimado -, não mais poderá desistir de oferecer a coisa ao vendedor,
sob pena de ser condenado a indenizar pelo abuso do direito na modalidade do venire
contra factum proprium, eis que a conduta ativa de oferecer a coisa a terceiros,
que atraiu a legítima confiança do vendedor na possibilidade de recompra, foi
traída pela segunda conduta, na qual o comprador retirou a proposta
injustificadamente. Trata-se de evidente afronta ao princípio da boa-fé
objetiva, tutelada como ato ilícito pelo CC 187. (ROSENVALD Nelson, apud Código Civil Comentado: Doutrina e Jurisprudência: Lei n.
10.406, de 10.02.2002. Coord. Cezar Peluso – Vários autores. 4ª ed. rev. e
atual., p. 575 - Barueri, SP: Manole, 2010. Acesso 17/09/2019. Revista e
atualizada nesta data por VD).
Na Doutrina
apresentada por Ricardo Fiuza, o dispositivo cuida da iniciativa da prelação
pelo antigo vendedor, uma vez bastante ciente que o atual proprietário pretenda
vender a coisa (ou dá-la em pagamento). Utiliza-se de faculdade ao exercício do
seu direito de preferência sobre a coisa em venda ou ilação, antecipando-se à
oferta obrigatória que haveria de ser feita pelo vendedor potencial a ele
preferente. A intimação serve para evidenciar o seu interesse de recomprar a
coisa, tanto por tanto (CC 515). (Direito Civil -
doutrina, Ricardo
Fiuza – p. 274 apud Maria Helena Diniz Código Civil Comentado já impresso pdf 16ª ed., São Paulo, Saraiva, 2.012,
pdf, Microsoft Word. Acesso em
17/09/2019, corrigido e aplicadas as devidas
atualizações VD).
Na visão de
Marco Túlio de Carvalho Rocha, uma vez que tome conhecimento do intuito do
comprador de alienar a coisa adquirida, não necessita o titular do direito de
preferência aguardar ser notificado pelo comprador, mas pode tomar a iniciativa
de intimá-lo com a mesma finalidade. (Marco Túlio de
Carvalho Rocha
apud Direito.com acesso em 17.09.2019, corrigido e aplicadas
as devidas atualizações VD).
Art. 515.
Aquele
que exerce a preferência está, sob pena de a perder, obrigado a pagar, em condições
iguais, o preço encontrado, ou o ajustado.
Sob o prisma
de Nelson Rosenvald, o artigo especifica que, além da vontade do comprador de
vender e do vendedor de comprar, essencial é que se mantenha uma paridade entre
as posições do terceiro e do vendedor, de modo que este só tenha êxito na
recompra em caso de oferecer idênticas condições de pagamento, tanto no valores
como nos prazos e demais vantagens que são oferecidas ao comprador.
Uma primeira
leitura da parte final do dispositivo poderia gerar contradições. As expressões
“preço encontrado” e “preço ajustado” podem não significar a mesma coisa. A
primeira expressão dá a ideia de equivalência entre o que oferecem o vendedor e
o terceiro. porém, “preço ajustado” poderia exprimir aquilo que comprador e
vendedor fixaram como preço de recompra, independentemente de qualquer oferta
de terceiros.
Contudo, tal
interpretação literal não resiste à finalidade do instituto, que pretende
resguardar a preferência, termo que sempre traz uma ideia de comparação com
outro, jamais de exclusão. Outrossim, a ideia do “tanto por tanto” que encerra
o CC 513 demonstra que sempre será observada a paridade entre o terceiro e o
vendedor.
Por fim, a referência direta
ao pagamento de um preço afasta a possibilidade de admissão do direito de
preferência nos contratos de troca e permuta, que se aproxima do direito na
venda, mas dispensa o pressuposto do preço. (ROSENVALD Nelson, apud Código Civil Comentado: Doutrina e Jurisprudência: Lei n.
10.406, de 10.02.2002. Coord. Cezar Peluso – Vários autores. 4ª ed. rev. e
atual., p. 576 - Barueri, SP: Manole, 2010. Acesso 17/09/2019. Revista e
atualizada nesta data por VD).
Para a
Doutrina de Nelson Rosenvald, o exercício do direito de prelação na compra pelo
antigo proprietário da coisa (preemptor) obriga-o a concorrer com terceiros em
igualdade de condições sujeitando-se a pagar, tanto por tanto, o preço exibido
ou ajustado, para fazer valer a preferência. De conseguinte, havendo o
comprador (atual proprietário) oferecido, em precedência, ao vendedor (ex
proprietário) a coisa que aquele vai vender (CC 513), cumpre-lhe manifestar o
interesse de exercer ou não o seu direito. Caso o exercite, o preferente
aceitante obriga-se a pagar o preço nas mesmas condições ajustadas pelo
vendedor com eventual terceiro interessado, constituindo essa obrigação a
substância do instituto da preempção.
O exercício
da preferência, no prazo ajustado ou no prazo legal (ausente a estipulação de
prazo convencional) apresenta-se como um ato complexo. Não é suficiente a
pretensão manifesta evidenciando o interesse real de o vendedor readquirir a
coisa vendida, preço por preço, ou em iguais condições. Assim, é necessário
que, no termo fixado, seja pago o preço da coisa sob pena da perda da preferência.
Pondera João Luiz Alves, comentando o CC de 1916: “Declarando que quer exercer
a preferência, i. é, que aceita a coisa – tanto por tanto – (Art. 1.149),
assume o vendedor a obrigação de comprar, i. é, de pagar o preço na forma
ajustada. O inadimplemento dessa obrigação determina contra o vendedor não só a
perda do direito de preferência, para o futuro, na hipóteses de não se realizar
a compra pelo terceiro, com quem fora ajustada, mas ainda a responsabilidade
por perdas e danos que, no caso ocorram, como as que resultam do fato de não
poder o comprador realizar o negócio com o terceiro, afastado pela declaração
do vendedor, de que entendia exercer a preempção e aceitar o contrato nas
condições ajustadas etc? Augusto Zenun é afirmativo: “A preferência tem de ser
exercida por meio de depósito fixado, começando tão logo seja afrontado, vale
dizer, estiver um frente ao outro; prazo que não se estica, pois é de
caducidades não de prescrição”. O entendimento está conforme a jurisprudência
‘Na venda de imóvel vinculado ao instituto jurídico da preempção, o preço a ser
depositado pelo comprador, ‘quando afrontado’, corresponderá ao valor do
bem conforme a oferta. (...)” (grifo nosso) (STJ – Resp 2.223-RS).
A oferta ao
preferente, compreendendo todos os elementos da proposta (preço, prazo,
condições) ou das vantagens oferecidas ao proponente pela coisa, exige
seriedade e correção, não podendo ser alterada perante terceiros, sob penas de
o antigo comprador, obrigado à oferta preferencial, responder por perdas e
danos.
A lei n.
8.245, de 18-10-1991, dispondo sobre as locações de imóveis urbanos, cuidou do
direito de preferência do inquilino, ditando-o como preferência legal (art.
27). Nesse passo, a jurisprudência assinala: “(...) Direito de preempção ou
perdas e danos. Não levado a registro o contrato de locação não é exercitável o
direito de preferência pelo locatário. Cabendo, contudo, se preterido esse
direito, perdas e danos. Art. 313. Lei n. 8.245/91” (STJ, 9T., REsp
130.008-SP, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ de 15-9-1997).
A jurisprudência tem
orientado: “Preempção. Exercício do direito. Distinção entre preço para
depósito e preço para pagamento. Na venda de imóvel vinculado ao instituto
jurídico da preempção, o preço a ser depositado pelo comprador, quando
afrontado, corresponderá ao valor do bem conforme a oferta. Para efeito de
conceituação, distingue-se depósito do preço, como manifestação da preferência
na pré-compra, e pagamento do preço na compra e venda definitiva, nesta
incluindo-se os acessórios ao preço e a correção monetária do valor do
depósito’ (STJ, 31 T., REsp 2.223-RS, Rel. Min. Gueiros Leite, DJ de
1-10-1990) (João Luiz Alves, Código civil da República dos Estados Unidos do
Brasil anotado, Rio de Janeiro, F. Briguiet. 1917 (p. 787),; Augusto Zenun,
Da compra e venda e da troca, Rio de Janeiro, forense, 2001 (p. 75). (Direito Civil - doutrina, Ricardo
Fiuza – p. 275 apud Maria Helena Diniz Código Civil Comentado já impresso pdf 16ª ed., São Paulo, Saraiva, 2.012,
pdf, Microsoft Word. Acesso em 17/09/2019,
corrigido e aplicadas as devidas
atualizações VD).
Resumindo
seu comentário a respeito do que dispõe o art. 513, Marco Túlio de
Carvalho Rocha, afirma que o direito de preferencia é o de adquirir a coisa nas
mesmas condições em que ela é ofertada a terceiros, “tanto por tanto”. As
condições dizem respeito ao valor total, ao prazo de pagamento, ao número de
parcelas e tudo o mais que condicione o pagamento do preço. (Marco Túlio de
Carvalho Rocha
apud Direito.com acesso em 17.09.2019, corrigido e aplicadas
as devidas atualizações VD).
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