Direito Civil Comentado - Art.
757, 758, 759
- DO
SEGURO - VARGAS,
Paulo S. R.
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Parte
Especial - Livro I – Do Direito das Obrigações
Título VI
– Das Várias Espécies de Contrato
(art. 481 a 853) Capítulo XV – DO SEGURO –
Seção I
Disposições
Gerais - (art. 757 a 777)
Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se
obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do
segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.
Parágrafo único. Somente pode ser parte,
no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente
autorizada.
No diapasão de Claudio Luiz Bueno de
Godoy, em redação mais ampla e técnica que a do art. 1.432 do Código anterior,
adstrita à avença securitária de dano e ao princípio indenitário ou
indenizatório a ela subjacente, o artigo em pauta define o contrato de seguro
referindo, em primeiro lugar, a contratação da garantia de riscos de qualquer
interesse legítimo do segurado, portanto não só o prejuízo advindo do sinistro
de uma coisa, já que no segura de pessoa garante-se um status quo do ser
humano (cf. Pontes de Miranda, Francisco C. Tratado de direito privado, 3.ed.
São Paulo, Revista dos Tribunais, 1984, t. XLV, § 4.911, p, 275), nem sempre
suscetível de ressarcimento, como, por exemplo, a vida. Esclarece-se, ainda,
que o seguro se faz do interesse do segurado, e não do que a ele é pertinente,
de modo que o objeto da contratação, a rigor, acaba sendo a garantia desse
mesmo interesse. Ou seja, procura-se abarcar, nesse conceito genérico do Código
Civil, a proteção a qualquer interesse do segurado, e que se ostente lícito,
exigindo-se, nos termos do preceito, sua legitimidade (CC 760). É o interesse
segurável que, acrescenta a nova lei, pode concernir a pessoa ou coisa,
portanto em seu conteúdo abrangidos os seguros de dano e, também, de pessoas,
justamente a divisão que se faz do capítulo presente, depois de fixadas as
disposições gerais do contrato.
Com efeito, o atual Código estrutura o
capítulo do seguro estabelecendo regras gerais e, depois, separando o seguro de
dano e o seguro de pessoa, destarte valendo-se de uma dentre as várias
classificações que do segura são feitas, aqui tomando-se como critério o objeto
afeto ao interesse eu se tenciona garantir. Na base do ajuste está a cobertura
de um risco que, porém, deve ser predeterminado, vale dizer, previamente
estipulado pelas partes, posto se admita aí incluído o quanto despendido pelo
segurado para evitar o sinistro ou minorar suas consequências (Silvio de Salvo
Venosa. Direito civil, 3.ed. São Paulo, Atlas, 2003, v. III, p, 383). Trata-se
do risco de que sobrevenha um evento futuro e incerto, ou de data incerta, não
adstrito à vontade exclusiva de uma das partes, chamado, quando ocorre, de
sinistro, que tenha sido previsto e que cause lesão a interesse do segurado,
assim operando-se sua garantia, pelo segurador, mediante a entrega, àquele, de
um capital previamente limitado. Dá-se, pois, como se costuma dizer, e não sem
críticas, conforme logo adiante se referirá, verdadeira transferência, ao
segurador, do risco de lesão a interesse do segurado. Isso, porém,
individualmente tomado o seguro, sempre mediante o pagamento de uma
contraprestação do segurado, o prêmio devido.
A rigor, todavia, ressalve-se que, no
ajuste de seguro, se pressupõe uma relação mais ampla de mutualismo, em que há
um universo de pessoas que, mediante o pagamento do prêmio, compõem um fundo
gerido pelo administrador eu calcula a probabilidade dos eventos cobertos para
quantificar a soma a ser paga pelos segurados. Mas, porque implica garantia de
indenidade, com real função previdenciária, e com a crescente multiplicidade e
complexidade das relações entre os indivíduos, cuida-se de contrato de especial
interesse social, uma vez que, afinal, repita-se serve a assegurar a
integridade das pessoas diante de acontecimentos danosos cada vez mais
frequente e diversificados, conforme a evolução das mais variadas atividades
humanas. Por essa razão, e por reclamar verdadeiro mutualismo, consoante
explicitado, a dar-lhe possível sustento, há o influxo de inúmeras regras de intervenção,
sabido que o seguro, ademais, foi sempre objeto de farta legislação especial,
cuja incidência se ressalva no CC 777, que retoma a matéria, tanto quanto na
concorrência normativa do Código de Defesa do Consumidor.
Além do mais, não por diverso motivo, e
a reforçar a ideia de uma operação mais abrangente, de mutualismo, a atividade
de seguro só pode ser desenvolvida por empresas, organizadas sob a forma de
sociedades anônimas ou, no ramo rural e de saúde, de cooperativas, que a tanto
sejam autorizadas pelo Poder Público, que as fiscaliza. A propósito, já o
estabelecia o Decreto-lei n. 2.063/40, sucedido pelo Decreto-lei n. 73/66, que
também criou o Sistema Nacional de Seguros Privados e, a integrá-lo, a
Superintendência de Seguros Privados (Susep), autarquia encarregada daquele
mister de fiscalização. Sobrevieram, mais recentemente, porém, sempre na mesma
esteira, alterando, em parte, o Decreto-lei n 73/66, os Decretos n. 605/92 e
3.633/2000 e a Lei n. 10.190/2001. Foi em todo esse sentido que, no parágrafo
único do artigo vertente, o Código Civil de 2002 ressalvou somente poder fazer
parte do contrato securitário, na condição de segurador, entidade para tal fim
autorizada, sempre na forma da lei especial.
Contudo, da definição legal do seguro
que se deu a fazer o Código de 2002, é costumeira a inferência de se tratar de
contrato bilateral, porquanto foco da irradiação de obrigação a ambas as
partes, oneroso, dada a exigência de que, como contrapartida da garantia
de risco, afeta ao segurador, haja o pagamento de prêmio, pelo segurado, mesmo
admitindo-se que sirva mais à composição de um fundo gerido pelo segurador, a
quem se garante uma remuneração; consensual, já que se aperfeiçoa pelo
consenso das partes, malgrado se prove por forma própria (ver comentário ao
artigo seguinte), valendo para muitos, ainda, quanto à questão do pagamento do
prêmio, causa de tipificação de um contrato real, remissão ao comentário do CC
763. Entretanto, impende notar, acerca do que não há dúvida, que o ajuste é
daqueles cativos, de longa duração, com especial reclamo a que se portem as
partes de acordo com o padrão de lealdade que a boa-fé objetiva exige, ademais
porquanto estabelecida sua intrínseca equação econômica a partir, basicamente,
das declarações e informações das partes, então calculando-se risco e prêmio
(CC 765). Também comum entende-lo como contrato aleatório, não comutativo, ao
argumento de que, de um lado, pode o segurado pagar o prêmio por muito tempo,
sem nunca precisar da cobertura contratada, tanto quanto pode o segurador,
depois de pouco tempo de recebimento do prêmio, ter de honrar o valor do
seguro, diante de sinistro sucedido. Ou seja, cobre-se risco de evento cuja
ocorrência futura é incerta, de modo que as prestações das partes não são
previamente conhecidas e determinadas.
Tudo isso, é certo, da perspectiva do
contrato individual de seguro, mas não olvidada sua inserção em relação
mutualista mais abrangente, como já examinado. Até porque, dessa perspectiva,
tem-se sustentado existir, sim, uma comutatividade, compreendendo-se a
prestação principal afeta ao segurador não como a de pagamento do valor
segurado, que pode realmente não acontecer, mas a de manutenção da garantia a
que se volta o seguro. Em outros termos, incumbir-lhe-ia gerir o fundo
constituído com o pagamento do prêmio pela universalidade dos segurados de
forma a manter, pelo tempo do ajuste, a garantia contratada, objeto da
contratação. Quer dizer, sua obrigação básica está em manter-se solvável
durante o tempo de ajuste (v.g., Ernesto Tzirulnik, “Princípio
indenitário no contrato de seguro”. In: Revista dos Tribunais, v. 759,
janeiro de 1999, p. 89-121). Daí diferenciar-se o seguro da aposta, do jogo,
sempre vinculado, como acentua Pedro Alvim (O contrato de seguro, 3.ed.
Rio de janeiro, Forense, 2001, p. 59), a uma cooperação de coletividade que
assume o risco pelo sinistro de cada qual, mediante a constituição de um fundo,
gerido pelo segurador, composto pelos prêmios pagos pelos segurados. (Claudio
Luiz Bueno de Godoy, apud Código Civil
Comentado: Doutrina e Jurisprudência: Lei n. 10.406, de 10.02.2002. Coord.
Cezar Peluso – Vários autores. 4ª ed. rev. e atual., p. 779-780 - Barueri, SP:
Manole, 2010. Acesso 29/01/2020. Revista e atualizada nesta data por VD).
Caminhando com Ricardo Fiuza, a norma
oferece um conceito preciso ao dizer tratar-se o contrato de seguro daquele
pelo qual uma pessoa (segurador) se obriga para com outra (segurado), mediante
o pagamento de um prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado pelo que
venha a sofrer pessoa ou coisa resultante de riscos futuros, incertos e
predeterminados como objeto do seguro, ampliando, afinal, a substância
conceitual fornecida pelo Art. 1.432 do CC de 1916. A crítica da doutrina, em
embate ao antigo dispositivo, situou-se no fato de este conter uma visão
parcial do seguro, circunscrevendo-o à indenização do prejuízo, o que implicava
apenas seguro de dano, não abrangendo o seguro de vida.
O seguro de coisas tem origem remota,
nos caminhos e dunas do antigo Extremo Oriente, durante as rotas de caravanas
dos cameleiros, que, entre si, pactuavam em quotas a eventual cobertura por
perda de seus animais, durante as longas viagens. Tal prática também foi
difundida pelos navegantes hebreus e fenícios, em torno de um “pacto de
reposição” das embarcações perdidas nas empresas marítimas de ousadia e perigo.
Seguiram-se novos experimentos de concessões de empréstimos como garantias de
viagens e transportes marítimos, operações de natureza especulativa proibidas
em 1243 pelo Papa Gregório IX. A forma contratual do seguro, tal como é
conhecida, ocorreu em 1374, conforme ata lavrada no Arquivo Nacional de Gênova.
O parágrafo único determina que o
segurador seja entidade constituída e autorizada para a atividade securitária,
como já dispunha o § W do Art. 20 do CC de 1916, e, ao depois, o Decreto-Lei n.
2.063/40 e, mais recentemente, a Constituição Federal de 1988 (CF 192, II),
mediante a EC n. 13/96. Anote-se que antes da codificação civil, o Decreto n.
5.072, de 1902, já impunha uma prévia autorização ao funcionamento das
companhias de seguro. Em cotejo histórico, percebe-se que a exploração da
atividade securitária era de prática exclusiva de particulares, até que em
1692, em Londres, Edward Lloyd fundou o “Lloyd’s Coffe”, ali organizando
uma bolsa de seguros marítimos. No Brasil, a primeira seguradora surgiu com a
vinda da Corte Imperial portuguesa (1808), fundando-se na Bahia a companhia de
Seguros Boa-Fé, com a disciplina legal regida pelas regulações da Casa de
Seguros de Lisboa, editadas em 1791.
Jurisprudência: “O contrato de seguro, típico de adesão, deve ser interpretado, em caso de dúvida, no interesse do segurado e dos beneficiários” (RT. 603/94). (Direito Civil - doutrina, Ricardo Fiuza – p. 398 apud Maria Helena Diniz Código Civil Comentado já impresso pdf 16ª ed., São Paulo, Saraiva, 2.012, pdf, Microsoft Word. Acesso em 29/01/2020, corrigido e aplicadas as devidas atualizações VD).
Caminhando com Luís Paulo Cotrim Guimarães e Samuel Mezzalira, de forma mais didática,
seguro é o contrato em que uma seguradora, mediante recebimento de certo
prêmio, se obriga a pagar determinado valor ao segurado ou a terceiro
(beneficiário) no caso de ocorrência de sinistro.
É contrato
bilateral, oneroso, aleatório, formal, por adesão, de execução continuada.
Os fundamentos
legais, a legislação especial que rege o contrato de seguros é vasta. A iniciar
pelos diplomas revogados, a saber Decreto n. 4.270/1901; Decreto n. 5.072/1902;
Código civil de 1916, arts. 1.432 a 1.448.
Outros encontram-se
em vigor, total ou parcialmente, juntamente com o Código Civil: Decreto n.
24.783/34 (criou o Instituto de Resseguros do Brasil – IRB); Dec. Lei n. 73/66
(regulamentou o Sistema Nacional de Seguros Privados, as operações de seguros e
de resseguros, criou o Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP e a
Superintendência de Seguros Privados – SUSEP. Recepcionado pelo art. 192 da
CF/1988 como Lei Complementar); Decreto n. 60.459/67; Lei n. 8.078/90, Código
de Defesa do Consumidor; Código Civil, CC 757 a 802.
O contrato é formado
entre a seguradora e o segurado. A seguradora deve ter a forma de sociedade
anônima (art. 1º, Dec.-lei n. 2.063/40), dedicar-se com exclusividade ao ramo
de seguros (art. 73, Dec.-lei n. 73/66), possuir o capital social mínimo fixado
pela Resolução CNSP n. 23/92, e ser autorizada a operar mediante Portaria do
Ministro do Desenvolvimento (art. 74, Dec.-lei n. 73/66; CC 60, § 1º) ou de
cooperativa (somente operam seguros agrícolas, de saúde ou de acidentes de
trabalho, art. 24, parágrafo único, Dec.-lei n. 73/66).
Os seguros sociais têm como único segurador o INSS. O Dec.-lei n. 73/66 sujeita as seguradoras à liquidação extrajudicial (arts. 94-107). A Medida Provisória n. 1.847/99 prevê a possibilidade de falência:
Art. 26. As
sociedades seguradoras não poderão requerer concordata e não estão sujeitas à
falência, salvo, neste último caso, se decretada a liquidação extrajudicial, o
ativo não for suficiente para o pagamento de pelo menos a metade dos credores
quirografários, ou quando houver fundados indícios da ocorrência de crime
falimentar.
A contraparte da
seguradora é o segurado. No seguro de vida e no de acidente com morte a
contraparte é o estipulante, que se distingue daquele a quem se destina a
indenização, o beneficiário, conforme o art. 21 do Dec.-lei n. 73/66:
Art. 21. Nos casos
de seguros legalmente obrigatórios, o estipulante equipara-se ao segurado para
os efeitos de contratação e manutenção do seguro.
§ 1º. Para os
efeitos deste Decreto-lei, estipulante é a pessoa que contrata seguro por conta
de terceiros, podendo acumular a condição de beneficiário.
§ 2º. Nos seguros
facultativos o estipulante é mandatário dos segurados.
(...).
(Luís Paulo Cotrim Guimarães e Samuel Mezzalira apud Direito.com acesso em 29.01.2020, corrigido e
aplicadas as devidas atualizações VD).
Art. 758. O contrato de seguro prova-se com a
exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento
comprobatório do pagamento do respectivo prêmio.
No lecionar de Claudio Luiz Bueno de
Godoy, dispunha-se, no Código Civil anterior, que, antes da emissão da apólice
de seguro e de sua remessa ao segurado, não se aperfeiçoava o contrato, levando
à defesa de sua natureza formal, como se a solenidade erigida fosse, então, de
sua substância. Ressalve-se, porém, que o mesmo dispositivo, em sua parte
final, admitia o seguro sem a apólice, desde que demonstrado pela respectiva
escrituração nos livros mercantis. O Código civil de 2002, no artigo em
discussão, assenta o caráter consensual do contrato, perfeito e acabado com o
consenso das partes. O que se estabelece, entretanto, é a forma escrita para
comprovação de sua existência. Com efeito, tal qual prevê a nova lei, o
contrato de seguro, em princípio, se prova por seu instrumento escrito, que é a
apólice.
O Decreto-lei n. 73/66, todavia,
permitiu a emissão, por solicitação verbal, portanto sem necessidade de
proposta escrita, de mero bilhete de seguro, em lugar da apólice (art. 10).
Além disso, conforme a especificidade do seguro contratado, varia sua forma.
Por exemplo, no seguro de vida em grupo não retém o segurado mais que um
certificado. Há seguros de transporte, ou contratado quando da locação de
veículos, em que o segurado não recebe mais que um informativo resumido, nunca
a apólice. Tudo sem contar as contratações por meio eletrônico, por telefone,
por fac-símile, como lembra Sílvio de Salvo Venosa (Direito civil, 3.ed.
São Paulo, Atlas, 2003, p. 378), revelando que, nessa matéria, não há forma que
seja substancial. Confirmando-o, e mesmo consolidando orientação que já vinha
da jurisprudência, assenta o Código Civil de 2002 que o contrato de seguro pode
ser provado até pelo recibo de pagamento do prêmio, em regra pela rede
bancária.
O que, por certo, não se pode sustentar
é que sem a apólice ou o bilhete não haja o contrato e muito menos que, antes
de sua remessa, não existe já obrigação securitária afeta às partes. A forma,
enfim, a que se refere a lei, tem função meramente probatória, de modo a
impedir a demonstração do ajuste exclusivamente por testemunhas. Daí
mencionar-se sua prova por qualquer documento comprobatório do pagamento do
prêmio ou qualquer outro, é de admitir, desde que indique a ocorrência do
consenso. Pense-se na proposta escrita, sucedida pelo pagamento do prêmio ou
por qualquer correspondência remetida pelo segurador, de que se extraia a
conclusão de que havida aceitação. (Claudio Luiz Bueno de Godoy, apud Código Civil Comentado: Doutrina e
Jurisprudência: Lei n. 10.406, de 10.02.2002. Coord. Cezar Peluso – Vários
autores. 4ª ed. rev. e atual., p. 781 - Barueri, SP: Manole, 2010. Acesso
29/01/2020. Revista e atualizada nesta data por VD).
Na toada de Ricardo Fiuza, o presente
dispositivo foi objeto de emenda, por parte da Câmara dos Deputados, no período
inicial de tramitação do projeto, para melhorar a linguagem. A redação do
anteprojeto, elaborado pelo Prof. Agostinho de Arruda Alvim, era a seguinte: “O
contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro,
e, na sua falta, por outro documento”. A nova redação proposta eliminou a
referência de todo inconveniente, a prova do contrato de seguro por “outros
meios de direito”. O bilhete de seguro é instrumento bastante satisfatório para
a ampliação e simplificação das operações. O “certificado” deverá ser objeto de
normas de nível regulamentar ou de prescrições da apólice ou do bilhete. Não é
o instrumento, mas a simples confirmação da existência do seguro.
O CC/2002 tratou da regra prevista no
art. 1.433 do CC/1916 em dois dispositivos, quais sejam o CC 758 e o CC 759.
Com relação ao aqui examinado, a inovação por ele trazida proporciona maior
facilidade ao segurado de comprovar, se necessário, a celebração do contrato de
seguro.
Para a doutrina, a lei
obriga, para aperfeiçoar o contrato de seguro, a existência de documento
escrito, fato que o evidencia como contrato formal. Acentua Maria Helena Diniz:
“a forma escrita é exigida para a substância do ato”. O CC/2002 racionaliza a
prova do seguro provendo eficiente documento comprobatório do pagamento do
prêmio como instrumento de prova da existência do contrato, na falta da
apólice ou do bilhete do seguro. Assim, a apólice, reconhecida pelos
doutrinadores como o documento que manifesta o contrato de seguro, não é o
único instrumento hábil para atestar a efetiva realização do negócio e, por
conseguinte, não mais depende de o segurador remetê-la ao segurado para somente
então ter-se por perfeito tal contrato, como dispunha o art. 1.433 do CC/1916,
que a considerava como instrumento substancial do referido contrato. A
jurisprudência de há muito corrigiu tal exigência, a exemplo de precedente
precursor citado por Sílvio Rodrigues (STF, RT. 167/364). (Direito Civil - doutrina, Ricardo Fiuza
– p. 399 apud Maria Helena Diniz Código Civil Comentado já impresso pdf 16ª ed., São Paulo, Saraiva, 2.012,
pdf, Microsoft Word. Acesso em
29/01/2020, corrigido e aplicadas as devidas atualizações VD).
Para Luís Paulo Cotrim Guimarães e Samuel Mezzalira, o
contrato de seguro deve adotar a forma escrita, ad probationem, ou seja,
para efeito de prova, e se materializa na forma da apólice ou do bilhete de
seguro. A apólice, cujo texto deve ser aprovado pela SUSEP, é o documento que
fica na posse do segurado; a seguradora fica na posse da proposta. De acordo
com o art. 10 do Decreto-lei n. 73/66, bilhete de seguro é forma simplificada
de documento que dispensa a proposta, p. exe., no seguro de danos pessoais
causados por veículos automotores. (Luís
Paulo Cotrim Guimarães e Samuel Mezzalira apud Direito.com acesso em 29.01.2020, corrigido e
aplicadas as devidas atualizações VD).
Art. 759. A emissão da apólice deverá ser
precedida de proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais do
interesse a ser garantido e do risco.
Para o entendimento de Claudio Luiz
Bueno de Godoy, no Código Civil de 1916, inexistia regra que, tal como a
presente, do CC/2002, obrigasse, precedentemente à emissão da apólice, a
efetivação de uma proposta escrita, com os elementos necessários à
identificação da contratação. É certo, porém, que, na legislação especial,
igual comando já havia. O Decreto-lei n. 73/66 estabeleceu, em seu art. 9º, que
os seguros deveriam se contratados mediante propostas assinadas pelo segurado.
Sobrevieram, alterando essa normatização, os Decretos-lei n. 168/67 e 296/67 e
o Decreto n. 60.549/67, da mesma forma dispondo que a contratação do seguro
reclamava prévia proposta assinada.
Destaque-se, todavia, que tais preceitos
devem ensejar uma interpretação sistemática, atenta ao fato, primeiro, de que,
como viu no comentário ao artigo anterior, a própria apólice não é
indispensável à contratação do seguro. Nessa esteira, a mesma legislação
especial autorizava a contratação do seguro por meio de bilhete, solicitado de
maneira verbal pelo segurado (art. 10 do Decreto-lei n. 73/66). De outra parte,
impende compreender a exigência de proposta prévia como uma medida de proteção
ao segurado, garantindo-se que a apólice depois emitida não destoe das
condições que se tenham levado à proposta remetida ao segurador, mas sem que
sua ausência comprometa, de alguma forma, a validade do seguro (ver, a
respeito, José Augusto Delgado. Comentários ao novo Código Civil, coord.
Sálvio de Figueiredo Teixeira. Rio de Janeiro, Forense, 2004, v. XI, t. I, p.
105). Isso não significa dizer, contudo, que, uma vez efetuada a proposta,
esteja o segurado livre da obrigação básica de boa-fé, impondo-se plena
veracidade das declarações então efetivadas, uma vez que, com base nelas,
calculará a seguradora o risco a garantir. De qualquer maneira, havida a
proposta, deve ela conter fundamentalmente o que comporá a apólice, ou seja, o
interesse segurável (ver comentário ao CC 757), o risco garantido, as condições
das partes e o prazo do seguro, tudo de acordo com as normas regulamentares da
Susep.
É importante notar, porém, de resto tal
qual já salientado nos comentários ao artigo anterior, que, malgrado imposta a
emissão da apólice em quinze dias da aceitação da proposta, como está na
legislação especial citada, admite-se a existência da contratação se, por
qualquer outro meio, demonstra-se aquiescência do segurador, por exemplo, pelo
recebimento do prêmio, mesmo que, portanto, não emitida a apólice. Assim, uma vez
comprovada a proposta, já de per si, por qualquer meio, a aceitação,
posto que a ausente apólice, poderá servir de prova do seguro.
Problema frequente se dá com a
ocorrência de um sinistro em meio a esse procedimento burocrático de tramitação
da proposta. Lembra Venosa (Direito civil, 3.ed. São Paulo, Atlas, 2003,
v. III, p. 401) a possibilidade de contratação, para essas hipóteses, de seguro
provisório, além da necessária verificação da forma corrente de agir das
partes, que, por vezes, sobretudo em casos de renovação, indica cobertura
imediata, com o endereçamento da proposta. Tudo sem prejuízo de ser imputável
eventual retardo a alguém por quem reposta a seguradora, como agente sucursal,
escritório de representação, assunto que se retomará nos comentários aos CC
760, 774 e 775. (Claudio Luiz Bueno de Godoy, apud Código Civil Comentado: Doutrina e Jurisprudência: Lei n.
10.406, de 10.02.2002. Coord. Cezar Peluso – Vários autores. 4ª ed. rev. e
atual., p. 782 - Barueri, SP: Manole, 2010. Acesso 29/01/2020. Revista e
atualizada nesta data por VD).
Da forma como apresenta Ricardo Fiuza, o
presente artigo configura desdobramento natural do antecedente, em que o
contrato de seguro exige a forma escrita. Para obrigar as partes e explicita a
necessidade de disposições concernentes ao interesse a ser garantido pelo
contrato e os riscos assumidos pela seguradora. Sem dúvida que os limites do
contrato estarão na conformidade da avença pactuada, a definir os elementos
essenciais do objeto do seguro, a saber, a espécie do sinistro, os interesses a
acobertar, os bens, as responsabilidades e obrigações, os valores de pagamento
do prêmio e do seguro, os direitos e garantias, os riscos assumidos etc.
A proposta é o elemento informador prévio, que serve como declaração de vontade do segurado em face do segurador e revela, com o pagamento do prêmio, ou seja, a quantia paga pelo segurado (ou estipulante) em troca da transferência de risco, a completude contratual necessária para os efeitos jurídicos daí decorrentes. Tudo isso diz respeito, inclusive, a uma futura execução do contrato, objetivando garantir o interesse legítimo do segurado. Por isso que se reconhece, por exemplo, abusiva a prática da seguradora de, incluído na apólice um valor sobre o qual o segurado paga o prêmio, pretender, posteriormente, indenizar este último por valor a menor, correspondente ao preço de mercado do bem, estipulado pela própria seguradora. Nesse sentido tem sido o posicionamento do STJ: REsp 176.890-MG, 4’T., rel. Mm Waldemar Zveiter, DJ de 19-2-2001. (Direito Civil - doutrina, Ricardo Fiuza – p. 400 apud Maria Helena Diniz Código Civil Comentado já impresso pdf 16ª ed., São Paulo, Saraiva, 2.012, pdf, Microsoft Word. Acesso em 29/01/2020, corrigido e aplicadas as devidas atualizações VD).
Na toada de Luís Paulo Cotrim Guimarães e Samuel Mezzalira, as
cláusulas de todo contrato de seguro privado têm de ser previamente aprovadas
pela Susep. A liberdade contratual do segurado limita-se a aderir ou não à
proposta que lhe é apresentada pela seguradora. Desse modo, o documento que
fica na posse da seguradora é a proposta aceita pelo segurado, que contém todos
os elementos essenciais do interesse garantido e dos riscos contra os quais o
seguro é contratado. (Luís Paulo
Cotrim Guimarães e Samuel Mezzalira
apud Direito.com acesso em 29.01.2020, corrigido e aplicadas as
devidas atualizações VD).
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